9 de dez. de 2007

A educação da nossa vergonha

A Câmara Municipal de Sesimbra promoveu, na sexta-feira à noite, um debate sobre o Projecto Educativo Local. Sobre este assunto, a vereadora da Educação da Câmara Municipal de Sesimbra, Felícia Costa, disse, em declarações ao jornal “SemMais” que uma das ferramentas muito importantes para a elaboração deste Projecto são os resultados dos inquérito aplicado no ano passado que revelam que «a maioria dos alunos, professores e encarregados de educação de Sesimbra está satisfeita com as escolhas do concelho, embora muitos reclamem a falta de escolas do concelho». A partir daqui, «a autarquia definirá linhas de acção para minimizar os principais problemas», disse a vereadora ao jornal. Quem ler isto há-de achar que a situação da educação em Sesimbra está bem e que apenas faltam equipamentos. Não se percebe porque se fecham os olhos às estatísticas preocupantes publicadas nos últimos dias na imprensa nacional e que nos deviam encher de vergonha. Os resultados dos exames nacionais realizados no ensino básico e secundário revelam uma situação preocupante. Sesimbra é o ÚNICO concelho do litoral que apresenta uma média negativa no exame de português do 12.º ano. A matemática a média é igualmente negativa embora esse resultado se dilua um pouco mais no grave panorama nacional. Em 1292 escolas, a Navegador Rodrigues Soromenho ocupa a 1113.ª posição, e cem lugares acima (1013) aparece a Michel Giacometti.
Enquanto que por um lado a autarquia diz que faz, faz, faz, por outro, os resultados são desastrosos. Alguma conclusão deveria ser retirada desta evidência. Claro que num problema de âmbito nacional, é muito mais fácil sacudir a água do capote para as opções do Governo. Muitas delas, obviamente, altamente criticáveis e criticadas. Mas pensar a educação num âmbito local não pode ser indiferente a esta realidade e uma autarquia não pode, nem está isenta de culpas.
Mais grave a coisa se afigura quando durante a sessão de sexta-feira, a assessora da autarquia para elaboração da Carta Educativa tenha defendido que (numa intervenção em que se apresentou, curiosamente, apenas como “professora aposentada”) o Projecto Local é «uma utopia».
Por seu lado, e uma vez mais, a vereadora da Educação, Felícia Costa, queixou-se da falta de participação por parte dos docentes e restante comunidade educativa nestes eventos promovidos pela autarquia. É estranho que a vereadora consiga reunir tanta gente no tradicional banquete de recepção à comunidade educativa, mas que poucos se sintam mobilizados para discutir os problemas.
Provavelmente não se sentiram envolvidos. Provavelmente já não acreditam. Provavelmente acharam que não se discutiria o que realmente interessa. Provavelmente pensaram que ao seu contributo não seria dada qualquer relevância ou valor.
Já agora, e aqueles que fizeram o esforço para participar no debate que impressão trouxeram?
Num quadro assim também eu acabo por partilhar da opinião da assessora, desculpem, engenheira, desculpem… como é mesmo?... ah, professora aposentada: o futuro da educação em Sesimbra, só pode mesmo ser uma utopia.

12 de nov. de 2007

Pedinchas

Há uma questão que me tem feito muita comichão. Há uns tempos, o Grupo Desportivo de Sesimbra (GDS) anunciou o cumprimento daquilo que ameaçava ser uma eterna promessa eleitoral: a construção duma piscina. O homem sonhou e a obra está em nascimento. Um parto difícil, diga-se de passagem. Ainda não consegui perceber se homem sonhou demais e deu um passo maior do que permite a perna de um grupo desportivo, ou se surgiram mais imprevistos do que os realisticamente considerados.

Mas, façamos contas… esta obra foi comparticipada pela administração central e pela Câmara Municipal de Sesimbra. Entretanto foi contraído pelo clube um empréstimo no valor de 1.440.000 Euros. Há uns tempos, estacionar o carro no Calvário implicava um pagamento que revertia para o GDS. Hoje, na Rádio Sesimbra FM e no site do clube pedincham-se donativos, assumindo que «as dificuldades financeiras são uma constante quando se inicia um projecto de tal dimensão».

Ninguém ignora as dificuldades porque passa o movimento associativo, essencialmente subsidio-dependente. Mas há obras e obras. O Estado contribuiu para esta, tal como a Câmara o fez. E todos nós contribuímos para o Estado e para a Câmara. Parece-me que há aqui algo de excessivo. Ou é a pedinchice ou é a obra em si.

Nesta onda da pedinchice entrou também o Raio de Luz, que em editorial já tinha acusado de “soberbos e avarentos” os que “têm mostrado insensibilidade na partilha dos seus bens para o benefício dos demais”. Também a obra do Centro de Estudos foi já comparticipada pela administração central, Junta de Freguesia do Castelo e pela Câmara.

Mas que raio de moda é esta agora?!

Funina's Blog

Ninguém pode acusar este homem de falta de persistência.
Segundo consta, tem comparecido em mais reuniões de Câmara e da Assembleia Municipal que os próprios membros destes órgãos.
Agora, ele chegou ao universo dos blogues:
http://arlindofunina.blogspot.com/

Um, dois, três, macaquinho do chinês

Nos últimos tempos, os sesimbrenses têm sido bombardeados com referências a “festivais” gastronómicos. Primeiro foi a Quinzena do Peixe-Espada Preto. A esta seguiu-se, no âmbito do programa ‘Marés de Outono’, a Quinzena do Espadarte. Acabadinhos de sair desta, damos logo de caras com a semana gastronómica dos “Sabores de Outono”.
Não tenho absolutamente nada contra estes sucessivos eventos gastronómicos, mas parece-me que com tanta oferta, acabar-se-á por banalizar algo que poderia, dentro de algumas edições, destacar o concelho conquistando turistas pelo estômago.
Falta (também aqui) orientação a esta política de divulgação das actividades económicas. Ora vejamos: anteontem Sesimbra foi concelho de Espadarte; ontem, pretendeu-se que afinal o conhecessem pelo Peixe-Espada Preto; hoje, valem mais as castanhas, batatas-doces e maçãs camoesas da Azoia.
Ser ou não ser, não é realmente a questão que importa. Ou melhor, importa ser seja o que for. É a loucura.
De facto, não há fome que não dê em fartura. E não há enfartamento ou azia que um Kompensan não resolva.

E, atenção, é preciso ter cuidado por que esta coisa pega-se.
É que, entretanto, para não se ficar atrás, o presidente da Junta de Freguesia de Santiago lançou há dias o Festival Gastronómico de Sopas do Mar que deverá decorrer lá para Abril. Félix Rapaz pretende que esta quinzena (esta é que é!) se torne numa «referência nacional».

Mas, de agora até Abril ainda há muita quinzena pelo meio… e aqui a imaginação é o limite.

Já agora... e antes que alguém tenha outra ideia, declaro desde já as duas próximas semanas como a "Quinzena Gastronómica da Sopa de Pelim".

Movimentações

Dois anos apenas nos separam das próximas eleições autárquicas. Não são, por isso, inocentes as movimentações de candidatos a candidatos (digo eu) aos órgãos autárquicos.
Assim, depois de meio mandato a dizer “ámen”, surgem, pela primeira vez, ecos de divergência no executivo que gere a Câmara Municipal de Sesimbra. Há uns tempos, a palavra “unanimidade” era escrita e reescrita na imprensa local. Agora, o vereador socialista Amadeu Penim já ousa descolar-se, pública e assumidamente, das decisões do presidente comunista Augusto Pólvora.
Noutro palco, a comissão concelhia do Partido Socialista tem agora um novo presidente. A Alberto Gameiro, um dos actuais vereadores socialistas que ainda não ousou descolar da liderança comunista da Câmara, sucedeu João Capítulo.
Noutro palco, surge o também socialista, Félix Rapaz, actual presidente da Junta de Freguesia de Santiago. Também este autarca já assumiu que faria todo o gosto em ser cabeça de lista pelo PS à Câmara. Por enquanto, vai lançando desfiles de moda e um festival gastronómico.
E ainda faltam dois anos… Convém que no meio destas movimentações, alguém faça o favor de se lembrar da terra e das pessoas. Não digo que isto seja uma prioridade, mas entre o admirar o próprio umbigo, o distribuir "papas e bolos" e o propagandear a pedrinha que se ajeitou na calçada, pode ser que se encontre um bocadinho de tempo para ver o resto.

Pelas ruas da amargura

Mais uma vez, a edição do jornal ‘O Sesimbrense’ marca pela sua inutilidade. No editorial, a directora Isabel Peneque retoma o tema do aborto, questionando a opção das mulheres que optam por recorrer à interrupção da gravidez. O tema tem suscitado debates interessantes o que contrasta com o editorial de Peneque que prima pelo banal desinteresse e traduz a indiscrição da senhora que relata uma conversa que ouviu num café de bairro, na mesa do lado. Falar da vida alheia já é mau. Mas publicar conversas escutadas na mesa do lado num café, criticando-as e julgando-as, é mesmo mau demais para ser verdade.

A capa do jornal volta a falar de desporto, desta vez (até que enfim) concelhio. Na foto, o destaque vai para três sorridentes autarcas deste concelho; a presidente da Assembleia Municipal, Odete Graça, o presidente da Câmara Municipal de Sesimbra, Augusto Pólvora, e o presidente da Junta de Freguesia do Castelo, Francisco Jesus. Enfim, uma família da mesma cor política, sorridente e (até parece) unida. Tudo a propósito do 8.º aniversário do Clube Escola de Ténis.

Sobre este acentuado declínio de qualidade informativa em alguma imprensa regional, não posso deixar de referir aquilo que descobri no blogue Rede da Xixa que analisa a edição de 2 de Novembro do jornal ‘Nova Morada’. Aqui, chama-se a atenção para uma entrevista feita ao vereador do desporto, José Polido. Faço minhas as palavras e indignação deste anónimo comentador:

Estas são as perguntas que Vanda Pinto colocou ao vereador José Polido.
1ª Pergunta – Que balanço poderá fazer do Desporto a nível concelhio, nestes dois anos?
2ª Pergunta – Esses resultados também são fruto do apoio dado pela autarquia. Como é visto esse apoio pelos clubes?
3ª Pergunta – Fala-se muitas vezes que a autarquia é o grande suporte financeiro dos Clubes. Concorda com esta afirmação?
4ª Pergunta – Mas sem esta ajuda os Clubes não conseguiriam sobreviver…
5ª Pergunta – Acha que existem muitos clubes no concelho?
6ª Pergunta – Em termos financeiros é um grande esforço para a autarquia?
7ª Pergunta – Quanto custa à Câmara esse apoio?
8ª Pergunta – Sendo da área dos números e dos cifrões o que o levou a aceitar uma área como o desporto?
9ª Pergunta – Já agora, que modalidade praticava o atleta José Polido?
10ª Pergunta – Num futuro que projectos desportivos estão a ser desenvolvidos?
11ª Pergunta – Como gostaria de ver crescer o desporto no concelho?
12ª Pergunta – É portanto um vereador orgulhoso do trabalho desenvolvido na área?
13ª Pergunta – Que mensagem gostaria de deixar à população e aos nossos atletas?

Em nota introdutória ao artigo, Vanda Pinto, a assessora da Câmara de Sesimbra e colaboradora do Nova Morada escreveu: “… o apoio do vereador ao desporto e ao movimento associativo tem sido bem evidente até à data. Não é difícil encontrá-lo nas várias actividades ligadas ao desporto que têm decorrido por todo o concelho”

Isto é Imprensa livre e independente???

Não deixa de ser curioso, e até ridículo, que o director do 'Nova Morada' critique em pleno editorial, cheio de moral, um outro jornal local - o 'Notícias da Zona' - por este último ter debatido, numa das suas últimas edições, o casamento e a união de facto.
Ai os telhados de vidro... Enfim, quanto a mim, entre uns e outros, venha o diabo e escolha, porque esta imprensa local anda mesmo pelas ruas da amargura.

3 de out. de 2007

(O)missões

Eu tento perceber, juro que tento... mas não consigo encontrar explicação razoável para o facto de alguns órgãos locais de comunicação social se demitirem tão escandalosa e perigosamente das suas “nobres” funções de informar com verdade e respeito.
A última edição do jornal ‘O Sesimbrense’, que já está on-line, dedica um espaço significativo à última Assembleia Municipal sem nunca referir a moção de censura que este órgão autárquico apresentou à Câmara Municipal de Sesimbra, o que me causa, no mínimo, muita estranheza. Dar eco aos factos, mantendo uma postura o mais imparcial possível, é jornalismo. Omiti-los, já é tomar uma posição, o que é ajornalismo.
Se algum dos derbys futebolísticos que se disputaram na tarde de Sábado, ao mesmo tempo que decorria a reunião da assembleia, tivessem tido honras de capa neste quinzenário, ainda dava o benefício da dúvida ao jornalista. Mas (pasmem-se), desta vez não há fotos de jogadores de râguebi, nem de atletas do triplo salto, nem tão pouco de futebolistas na 1.ª página. É certo que o editorial termina a falar do Scolari e de como um seleccionador nacional passa de bestial a besta, mas é a recriação da antiga lota que merece o destaque de capa.

2 de out. de 2007

Respeito democrático

As bancadas do PSD/PP, BE e PS da Assembleia Municipal aprovaram, no sábado, uma moção de censura à Câmara Municipal de Sesimbra. Na origem desta tomada de posição está o facto de a Câmara ter criado, mediante escritura de 28 de Dezembro de 2006, a ‘Associação de Sesimbra um Concelho com Futuro’, sem a prévia deliberação da Assembleia Municipal.
Curiosamente, a participação da Câmara nesta associação também não resultou duma prévia deliberação por parte do seu próprio executivo, que se limitou a ratificar posteriormente a decisão já tomada pela vice-presidente, Felícia Costa.
Em documentos e despachos que ficaram no meio desta trapalhada, a Câmara reconhece que os procedimentos adoptados não foram isentos de erros, reconhecendo mesmo «existirem fundadas dúvidas quanto à [sua] legalidade».
Apesar de tudo isto, o presidente da Câmara, Augusto Pólvora, estava, de facto, convencido que a Assembleia Municipal fecharia os olhos a esta série de trafulhices, aprovando de cruz a referida Associação, pactuando com um procedimento que tem por base o desrespeito da lei.
Convém sublinhar que apesar de votar contra a moção, a presidente da Assembleia Municipal, Odete Graça (CDU), apresentou uma declaração de voto onde repudiou de viva voz a actuação da Câmara que fez orelhas moucas a um seu despacho que determinava o pagamento de uma taxa à CCDR para que emitisse um parecer sobre o caso, com base no qual a Assembleia deveria decidir. Augusto Pólvora nunca pagou, o parecer nunca veio. Foi, a gota de água.
Esta moção, segundo consta, terá deixado o edil de cabelos em pé, afirmando sentir-se crucificado. Não admira tamanha surpresa. Afinal, este é apenas um exemplo da forma de actuação deste executivo que já vem sendo regra embora sem qualquer contestação. É o quero-posso-e-mando.
Basta ver que o acordo que está na base no mega-projecto imobiliário para a mata de Sesimbra foi também, há poucos dias, considerado ilegal pelo ministro do Ambiente. Apesar disso Augusto Pólvora já veio defender a público que a “cidade da Mata” é para avançar, pois mais m2, menos m2, não faz grande diferença.
Da mesma forma, também não faz grande diferença que uma associação cuja existência nunca foi aprovada pela Assembleia Municipal, sendo por isso ilegal, tenha já Estatutos publicados em Diário da República (Anúncio n.º 1371/2007, DR n.º 42, 2.ª série, 28 Fevereiro 2007). Ora, considerando que esta associação «tem por objecto a promoção e modernização do núcleo urbano central da vila de Sesimbra» visando a sua requalificação, que se poderá dizer do projecto URBCOM? Ai que monumental embrulhada!...Precisamente no processo referente à assinatura do polémico (e ilegal) acordo do Meco, o presidente da autarquia alega que a decisão saiu da Câmara e da Assembleia Municipal, por unanimidade. Esquece-se agora que, na altura, o voto contra o acordo significava um peso sobre a consciência de cada um, pois à assinatura “só” havia uma alternativa: a invasão germânica e o pagamento de uma choruda quantia aos alemães que deixaria depauperados os cofres do munícipio. Apesar de tudo, desta feita, a Assembleia Municipal decidiu não pactuar com as ilegalidades. Valha-nos isso. Já que não nos respeitam a nós, meros munícipes, ao menos que se respeitem uns aos outros.

28 de set. de 2007

Allez Portugal allez!

Na sua edição de 30 de Agosto, o jornal ‘O Sesimbrense’ fazia parar o concelho, por trazer na sua primeira página uma notícia escaldante de grande relevância para a população local: ‘Nelson Évora salta para a medalha de ouro’. Uma fotografia do atleta do Benfica, vencedor do triplo salto no Campeonato do Mundo de Atletismo que decorreu em Osaka, Japão, ocupava toda a capa do jornal.
Na sua edição de 15 de Setembro, ‘O Sesimbrense’ volta a fazer história no jornalismo local, puxando para a capa a prestação da selecção nacional de râguebi que esteve, pela primeira vez, num campeonato do mundo da modalidade.
Num mundo em constante mudança, e num concelho não tão fraco em notícias como poderia parecer à primeira vista, as opções editoriais deste «quinzenário independente para defesa dos interesses do concelho» parecem-me pouco claras.
É certo que o mundo desportivo gira em torno do futebol e toda a gente sente que deveria ser dada maior relevância às restantes modalidades nas quais os atletas lusos se têm destacado. Não me parece, no entanto, que isso seja motivo suficiente para ‘O Sesimbrense’ se demitir da sua missão de ‘defesa dos interesses do concelho’. Não me parece que seja missão deste jornal fazer as capas que ‘A Bola’, o ‘Record’ ou o ‘Jogo’ poderiam ter feito.

Eventos em curtas

A Junta de Freguesia de Santiago promove, esta noite, um desfile de moda, em conjunto com uma empresa de realização de eventos, e com o apoio de algumas empresas do concelho e da Câmara Municipal de Sesimbra. No site da Junta descobri a imagem de divulgação do acontecimento que integra dois elementos gráficos interessantes: a fortaleza de Santiago à qual se sobrepõe um mulher loira, nua. Apesar de afirmarem que o principal objectivo do ‘Sesimbra Fashion Party’ (porquê o nome em inglês?) é colocar a vila «na rota da moda e mostrar que tem lojas e estilistas de grande qualidade e gente bonita para as passerelles», parece-me que a imagem de divulgação do evento parece querer asseverar outros atractivos. Como dizem uns «gatos» que por aí andam... «volta e meia também vão aparecer gajas nuas».
Ai estes candidatos a presidente de Câmara...

Há uma semana, a Câmara Municipal de Sesimbra recriou, na baía de Sesimbra, a antiga lota. Dentro do espírito do ‘Carnaval todo o ano’, no teatro foram envolvidas as escolas de samba e grupos, cujos elementos se mascararam para recriar esses tempos idos. No final do dia, quando o evento já estava longe, só se falava no mistério do cherne desaparecido. Isto para não falar no sumiço de gorazes e peixe-espada preto. Terá sido intervenção da ASAE? Terá sido o vento? O vento não foi certamente e a ASAE não actua assim.

Dando continuidade a uma série de eventos de forte cariz cultural, a Câmara Municipal de Sesimbra vai assinalar o Dia Internacional da Pessoa Idosa (1 de Outubro) com uma mega ‘Matiné Dançante’ que terá lugar no salão ‘Baila Comigo’. Para os idosos do concelho não haverá cherne nem «gajas nuas». Mas que eles mereciam muito mais do que isso, ai mereciam sim senhor.

26 de set. de 2007

Também quero!!

Uma sala cheia recebeu na sexta-feira o debate sobre a ‘Educação e a Escola Pública’ organizado pelo grupo de reflexão sobre o concelho de Sesimbra - ‘Observa’ -, que contou com as participações do reitor da Universidade de Lisboa, António Nóvoa, e dum fundador do Movimento da Escola Moderna, Sérgio Niza.
Em vésperas da reconstituição da antiga lota na praia de Sesimbra, foi com alguma surpresa que vi entre o público a vereadora da Educação da Câmara Municipal de Sesimbra, Felícia Costa.
Foi também com surpresa que a vi entre o público, e não na mesa. Não porque eu ache que ela devesse estar na mesa, mas antes porque acho que ela acha que lá deveria estar.
Foi porém sem surpresa que ouvi a intervenção da vereadora durante o período de debate. Sem rodeios, Felícia Costa antes de dirigir a sua pergunta aos oradores, fez questão de se afirmar admirada por ver a sala cheia de professores, quando poucos comparecem às acções realizadas pela Câmara sobre Educação. Será que a vereadora acha mesmo que esta foi a forma mais correcta de os atrair?
É curioso... Porque também eu fiquei admirad@ por ver a vereadora entre o público num evento que não foi organizado pela Câmara.

«Quando se trata de educação, nenhum político tem dúvidas, nenhum comentador se engana, nenhum português hesita. Palavras gastas. Inúteis. Banalidades. Mentiras. O que é evidente, mente. Evidentemente.»‘E vid ente mente. Histórias da Educação’, António Nóvoa (Asa, 2005) [Retirado do folheto de apresentação da sessão.]

6 de set. de 2007

O «principal» e o «único»

Felizmente o mês de Agosto chegou ao fim.
Finalmente a pequena avalanche de turistas que escolheram Sesimbra como destino de férias, fez as malas e partiu. E os outros (aos quais que não podemos chamar “turistas”) que apenas vêm ao Sábado de manhã e vão ao Sábado à tarde, continuarão a vir e a ir, sempre que o sol perder a vergonha.
Dizem por aí que o Verão “foi fraco” e, há dias atrás, um jornal concelhio comprovou-o dando honras de 1.ª página ao fracasso: ‘Turistas em queda por falta de animação’.
Custa-me a crer que no próximo editorial do boletim municipal, o presidente da Câmara reitere a afirmação de que «Sesimbra é, hoje, o principal destino turístico da Costa Azul e o único destino internacional da região». Augusto Pólvora sustentou a afirmação em dados do «Instituto Nacional de Estatística» referentes aos últimos anos, embora não defina quais, e isso talvez fosse importante para conseguir compreender a incoerência, verificável a olho nú, desta constatação.
Como o líder de bancada da CDU na Assembleia Municipal, Fernando Patrício, nos ensina: não é por repetirmos muitas vezes uma mentira que ela se torna verdade. Por isso, Augusto Pólvora bem pode deixar de insistir nas ideias de «principal» e «único» destino turístico, pois não é por dizê-lo e escrevê-lo muitas vezes que a coisa se efectiva. Há que fazer muito mais.
No editorial em que Pólvora eleva Sesimbra a «principal» e «único», ressalva o trabalho do Turiforum, um «grupo de reflexão sobre o turismo em Sesimbra». Parece-me agora que o grupo terá matéria suficiente para se entreter.
Além disso, acrescenta o edil, está na forja o ‘Plano Estratégico de Desenvolvimento Turístico’ que deverá ser lançado em breve, e que tem como «grande objectivo inverter a tendência sazonal» e «afirmar definitivamente Sesimbra como destino turístico durante todo o ano».
O importante, quer para o reflexivo Turiforum, quer para o Plano Estratégico, é que consigam partir dum diagnóstico fidedigno da situação do turismo actual e tenham uma ideia clara e correcta daquilo que deveria ser o objectivo: um turismo de qualidade para um concelho com as características de Sesimbra. Partir do princípio de que somos o «principal» e o «único» é, por si só, um mau princípio. Não sei onde querem todos eles chegar, mas não é bom sinal meterem pelo caminho um ‘carnaval de Verão’ que só desencantou, um esgoto a correr para a praia, a sobreposição de eventos, ou uma dose dupla de trios electrécticos, e isto apenas para apontar alguns casos.O boletim meteorológico não ajudou, é verdade. Mas isso não é desculpa para quem avoca ser o «principal» e o «único».

4 de set. de 2007

Uma terra de contrastes

No âmbito do evento 'Marés de Outono', vai recriada, dia 22 de Setembro, a antiga lota na praia, numa tentativa de, dizem, "valorizar as tradições". As festas em honra de Nossa Senhora do Cabo Espichel, promovidas pela Comissão de Festas, incluem um pouco tradicional karaoke, no Santuário.

Início do ano lectivo

O início do ano lectivo no concelho de Sesimbra tem sido, nos últimos anos, principescamente assinalado com a realização de um grande banquete oferecido à comunidade educativa. Este evento tem merecido ferozes críticas
pelo esbajamento panfletário (promover uma festarola para centenas de pessoas não é coisa que se faça com meia dúzia de tostões), sobretudo porque há escolas onde os professores são obrigados a pedir aos encarregados de educação, com jeitinho, algum dinheiro para suportar fotocópias, visitas de estudo e... papel higiénico. Apesar disso, a autarquia tem feito finca pé em promover este banquete anual e 2007 não será excepção. Mas, ao que parece, há novidades.
No Sesimbr’Acontece de Setembro é anunciado que o evento terá como tema a banda desenhada. Mas... pasmem-se! Desta feita não estão a pedir aos convivas que se mascarem de Homem-Aranha, Flash Gordon, Hulk ou de X-Men. Segundo a publicação, todos os participantes serão convidados a levar «um livro de banda desenhada para ser oferecido às bibliotecas escolares». Apesar da promessa eleitoral de ‘Carnaval todo o ano’, a autarquia decidiu, ao que parece (e bem), pôr fim ao baile de máscaras em que tinha transformado a recepção.
Mas há mais inovações. A edição ’07 do banquete para a comunidade educativa não terá lugar nem na Fortaleza de Santiago, nem na Quinta dos Sonhos, mas sim, na Escola Básica 1 / JI da Quinta do Conde.
Note-se ainda que, em entrevista ao jornal ‘O Sesimbrense’, a vereadora da Educação, Felícia Costa, quase dá a mão à palmatória quando recusa a denominação de ‘recepção à comunidade educativa’. «Prefiro chamar-lhe um momento de homenagem e reconhecimento pelo trabalho desenvolvido por professores e alunos», disse. E acrescenta: «Vamos fazer um encontro no dia 14 (...)». É impressão minha ou há aqui uma alteração de discurso e de postura?
Não posso ainda deixar de sublinhar uma outra afirmação de Felícia Costa: “Iremos aproveitar para falar do que se pretende realizar durante o ano”. Assim, como quem não quer a coisa, a vereadora até vai procurar falar de alguma coisa importante durante o convívio. Até porque convém, não vá o pessoal pensar que aquilo é só mesmo banquete e festa. Definitivamente, algo mudou. E sente-se nas entrelinhas o desalento de Felícia Costa por ter de limitar o seu querido festim anual de auto-promoção.

3 de set. de 2007

O Regresso

O início do mês de Setembro marca o fim da “silly season”. Mas, na abertura da nova “season” política concelhia, Fernando Patrício, articulista no jornal ‘Nova Morada’ e elemento da bancada comunista na Assembleia Municipal de Sesimbra, publica no referido jornal mais um artigo de opinião absolutamente “silly”, para não dizer pior. Não tendo aprendido com o primeiro erro, Patrício volta a comparar a actuação dos socialistas à do ministro da propaganda de Hitler. Comece-se por dizer que Patrício sabe tão bem do que fala que redige erradamente o nome do político do 3.º Reich. Em vez de “Goebbels”, Patrício escreve “Goebels”, comendo-lhe um “b”.
Goebbels compreendeu como dominar os meios de comunicação de massa e é-lhe atribuída a afirmação de que “qualquer mentira repetida até à exaustão acaba por se tornar uma verdade”. Mas isso Patrício sabe, até porque é, precisamente, por essa afirmação que inicia a sua crónica. Mas o que Patrício talvez não saiba, (mas pode consultar na wikipédia) é que Paul Joseph Goebbels foi, por algum tempo, comunista, e esperava que uma revolução salvasse a Alemanha da dificil situação social em que se encontrava. Rejeitava o capitalismo, mas também a democracia e acabou por se tornar um anti-semita fanático. A determina altura do seu percurso político, Goebbels é enviado por Hitler para dirigir a propaganda em Berlim (uma área de influência comunista, onde o movimento Nazi não se tinha conseguido implantar fortemente). Diz a wikipédia que, «já na sua primeira acção em Berlim se denotam em Joseph Goebbels os métodos de inspiração comunista. No bairro proletário de Wedding, ele alugou uma larga sala de audiências que costumava ser utilizada pelos comunistas. Os placares anunciando o evento imitavam o estilo e as palavras usadas pelos comunistas.»
Mas esta é apenas uma custa lição de história que não deve ser lida como nada mais do que isso.
Voltemos, por isso, ao artigo de Patrício que inicia por “Goebels”, passa para a lei de financiamento dos partidos, para chegar até ao “pistoleiro da Quinta do Conde” e às ameças “à integridade física” a elementos da CDU. Depois disto, Patrício ainda faz questão de sublinhar que é gerente comercial numa empresa privada, e manda cumprimentos a alguém que tem um “toyota branco” e lhe tirou fotografias à casa, para, finalmente, fechar o texto lançando acusações a um vereador do PS.
Independentemente das razões de Patrício, da justeza, ou não, das suas críticas e dos recados que manda pelo jornal, parece-me que um “Goebels” ali metido, a foice e a martelo, e pela segunda vez (porque já num artigo anterior, Patrício chama ao texto o ministro nazi) é completamente descabido e soa demasiado a um certo discurso madeirense onde os adjectivos “fascistas”, “cubanos” e afins são usados com a mesma leviandade.
O mote está dado: inicia a “season”, igualmente “silly” e muito “foolish”.

4 de jul. de 2007

É preciso ter lata!

A última Assembleia Municipal de Sesimbra terá sido, sem margem para dúvidas, uma das mais participadas dos últimos tempos, e onde a actuação do executivo camarário foi mais criticada, não pelas bancadas que representam os diversos partidos políticos ali representados, mas pela intervenção do público. Nesse momento da reunião, foram feitas cinco intervenções, sendo que três delas foram bastante críticas. E destas, uma foi... diria mesmo, arrasadora. A resposta do presidente da edilidade foi contida e pouco esclarecedora.
Um dos pontos da ordem do dia implicou a intervenção de representantes da Assembleia Municipal de Jovens. Os estudantes dos diferentes estabelecimentos de ensino do concelho, vá-se lá saber porquê, afinaram pelo mesmo diapasão de crítica, pondo o dedo nas feridas abertas da actual gestão camarária, expondo um rol de legítimas preocupações. Aqui, a resposta do presidente da edilidade foi pouco contida e esclarecedora.
Disse que os jovens, por serem jovens, não tinham sido capazes de efectuar um levantamento correcto dos problemas, mas numa próxima oportunidade teria todo o gosto em deslocar-se às escolas, respondendo, numa fase prévia, às principais questões colocadas pelos alunos.
Ora bem, Augusto Pólvora não só minimizou publicamente a capacidade e inteligência dos alunos, futuros eleitores deste concelho (que se envolveram neste projecto da ‘Assembleia Municipal de Jovens’ que tem como objectivo envolver os estudantes na vida do município, contribuindo assim para a sua formação cívica), como ainda se ofereceu para, numa próxima oportunidade organizar “comiciozinhos” nas escolas.
E esta hein?!

3 de jul. de 2007

Educação sem paixão

A Junta de Freguesia de Santiago tem publicado no seu site entrevistas mensais com algumas personalidades. O mês de Julho, que ainda há pouco abrimos, traz-nos Esequiel Lino. Os últimos acontecimentos relacionados com as comemorações dos 30 anos do poder autárquico espicaçaram-me a curiosidade para perder cerca de 40 minutos do meu dia a ouvir aquele que governou o concelho durante mais de 20 anos.
O entrevistador e presidente da Junta de Freguesia de Santiago, Félix Rapaz, começa por dizer que a conversa decorrerá numa “zona paradisíaca”. Mas a entrevista não decorre nas Maldivas nem nas Seychelles, e sim no bar do Hotel do Mar. Félix Rapaz começa por dizer que, “para o bem e para o mal”, Esequiel Lino marcou Sesimbra, mas a frase não incomoda o interlocutor. A história conta-se depressa, Esequiel Lino é da Maçã, percorria 7 km para ir para a escola, jogou futebol nos juniores do Sesimbra com um cartão falsificado, mais tarde passou pelo teatro de guerra em África, onde descobriu um livro de Fidel Castro que mudaria para sempre a sua vida. Trabalhou na banca e marcou pontos no sindicato do sector. Foram as “circunstâncias da vida” que o conduziram à comissão administrativa que governou o concelho de Sesimbra no pós-25 de Abril. Assume ser um “idealista”, característica que chocou com o aparecimento dos “políticos profissionais” que “tinham uma linguagem pela frente e outra por trás” e mantinham “jogos de poder”, com os quais se confrontou naquele que Esequiel Lino elegeu como o pior momento da sua governação: a polémica que surgiu no Meco aquando da discussão do 1.º Plano Director Municipal. Segundo o ex-presidente, um movimento contestava o excesso de construção prevista para aquela área da freguesia do Castelo. A polémica foi acompanhada pela SIC que surgia na época e que apanhava sempre quem “fazia xixi fora do penico” e pelo “então director da Grande Reportagem, Miguel Sousa Tavares”, que Esequiel chama de “mentiroso” e “indivíduo sem moral”. Esequiel Lino critica ainda a perda de identidade de Sesimbra e defende que o concelho tem de voltar-se para o mar.
Mas Esequiel Lino associa o melhor momento da sua governação ao impulso que foi dado à educação, ao dotar o concelho de infra-estruturas que evitaram que os alunos, terminado o 1.º ciclo, tivessem de sair para os concelhos de Almada e Seixal para prosseguirem estudos. Não deixa de ser curiosa esta constatação, numa altura em que a oferta de ensino secundário no concelho escasseia e não dá resposta às necessidades crescentes. Os jovens da Quinta do Conde são obrigados a sair para os concelhos limítrofes e o problema arrasta-se sem solução há vários anos. Aquilo que agora é visto como um avanço significativo alcançado ontem, foi já largamente ultrapassado pela realidade e dinâmicas demográficas.
Será que andamos de vistas curtas para a educação?

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O último editorial redigido pelo director do jornal ‘Nova Morada’ tem por título ‘Incompatibilidades’. Toda e qualquer semelhança com o assunto que tratei no post ‘(in)compatibilidades’ é pura coincidência.De notar que o texto é encabeçado por numerosos pontos de interrogação. Possivelmente uma gralha de paginação. Curioso que essa foi precisamente a sensação com que fiquei depois de ter lido o texto. Com muitas interrogações e algum pasmo.

1 de jul. de 2007

Assim se vê a força...

«O relatório da IGAT sobre o caso das alegadas reformas fraudulentas de funcionários da Câmara de Setúbal propõe a dissolução da autarquia comunista.
(...)
A investigação da IGAT diz respeito à reforma compulsiva de dezenas de funcionários da câmara de Setúbal, ocorrida durante o primeiro mandato do comunista Carlos Sousa, entre 2001 e 2005.
Segundo a acusação, os funcionários terão sido convencidos pelas chefias a dar cinco faltas seguidas ao serviço sem justificação (ou dez interpoladas) dando origem a processos disciplinares, que terminaram com a proposta de reforma compulsiva antecipada.
A câmara que está em situação de falência financeira desde os tempos da gestão socialista de Mata Cáceres, aliviava assim o encargo financeiro com os funcionários que também não eram prejudicados monetariamente. A Caixa Nacional de Aposentações, ao invés, terá sido defraudada pelo processo.»

(Edição on-line do jornal Sol)

Assim se vê a força...

29 de jun. de 2007

Acontece!

No editorial da edição de Julho da agenda Sesimbr’Acontece, a vereadora da cultura, Felícia Costa, começa por dizer que durante muitos anos se cultivou a ideia «de que os espaços museológicos e os monumentos eram lugares para investigadores e eruditos», para acabar por salientar a democratização do uso destes espaços através da realização de diversos espectáculos e eventos nalgumas salas de visita nobres do concelho: o castelo, a Capela do Espírito Santo, a Fortaleza de Santiago. Pelo meio, Felícia Costa refere as alterações nas «estratégias de gestão» que conduziram à criação de «formas alternativas de olhar o património» e à «abertura de espaços à comunidade».
Por acaso, há uns anos atrás, o Castelo era um espaço restrito, sim senhor. Mas não por ser dominado por uma elite. Apenas porque o seu estado de abandono propiciou alguns furtos e assaltos aos que ousavam subir a encosta.
A fortaleza, de facto, sempre foi um espaço fechado, não devido aos «investigadores e eruditos», mas sim por causa de colónias de férias.
Por seu lado, a Capela do Espírito Santo também não esteve entregue a «investigadores e eruditos». Apenas esteve encerrada durante anos a fio, votada ao abandono.
Entretanto fizeram-se obras. No castelo e na capela... porque a fortaleza continua a definhar escondida atrás de placas identificativas e de cartazes de divulgação.
Depois temos os outros monumentos e espaços museológicos que ainda não foram abertos à comunidade como a Casa do Bispo, o Cabo Espichel, todo o património geológico e arqueológico e (ainda) temos as lojas de companha e muitos outros. Será que afinal é aí que se escondem os «investigadores e os eruditos».

25 de jun. de 2007

Bom silêncio

A última edição do jornal ‘Notícias da Zona’ apresenta um balanço sobre o encontro ’30 Anos de Poder Local Democrático’, titulando sugestivamente a notícia: ‘Protagonismo não se exige, conquista-se’. O texto, assinado pela direcção do jornal critica a organização do evento, pela desorganização das intervenções e pela consequente redução do tempo que tinha sido atribuído a este jornal para falar sobre o tema ‘Turismo e Acessibilidades’. O desnorte no alinhamento, ao que parece, foi motivado por algumas intervenções dum ex-ex-presidente da Câmara Municipal de Sesimbra, Ezequiel Lino. O ‘Notícias da Zona’ ficou chateado. Pois claro que ficou chateado. E isso está desde logo patente na legenda da foto que ilustra a página: “Os presidentes da Câmara que, supostamente, fizeram história no que hoje é o Concelho de Sesimbra”. O “supostamente” é... significativo. Não diz... dizendo. Resta perceber qual dos cinco autarcas fotografados nos suscita mais suposições.
O texto da notícia, em si, não começa bem, dizendo que o evento teve lugar na “magnífica sala Carlos Sargedas”. Ora bem... é mais... “magnífica sala Mário Sargedas”. Mas eu própri@ não tenho grande memória para nomes. E, na generalidade do texto, sou forçad@ a concordar com o seu autor. Talvez se tenha errado no modelo de debate, na escolha ou disposição dos convidados, na organização do evento... Enfim, alguma coisa falhou. E, por causa disso, alguns oradores foram prejudicados pois não tiveram oportunidade de expôr a sua ideia, com princípio, meio e fim. Foi o que aconteceu ao ‘Notícias da Zona’ que utiliza este artigo para acrescentar o que ficou por dizer na sessão realçando as práticas turísticas que devemos aprender com os espanhóis, como a constante animação diurna e nocturna, e elogiando o projecto da ‘Mata de Sesimbra’, entre outras questões.
Quanto aos espanhóis e à forma como vendem o seu sol e constante animação diurna e nocturna, julgo que não temos, de facto, grande coisa a aprender. Sesimbra possui valores culturais próprios e não precisa de se transformar numa Benidorme, numa Marbelha, ou outros destinos que tais, porque com esses não tem sequer hipótese de rivalizar. Sesimbra tem de aprender a vender-se como Sesimbra e ponto final. Aprender com os outros não me parece uma má política, até porque o benchmarking está na moda. Mas no caso da costa espanhola na sua generalidade, a única coisa que devemos, é aprender com os seus erros.
Quanto a fazer depender o desenvolvimento turístico e económico de Sesimbra do mega-projecto imobiliário da Mata de Sesimbra é uma monumental asneirada.
Estou solidári@ com o ‘Notícias da Zona’ porque todos devem ter o direito de expressar a sua opinião, por muito idiota que ela seja. Mas não se arrelie muito com isso porque, pelos vistos, assim até ganhou uma boa oportunidade de estar calado. O poder local democrático também é feito de bons silêncios.

18 de jun. de 2007

(in)compatibilidades?

É impressão minha ou temos uma (ex?) assessora da Câmara Municipal de Sesimbra a assinar textos no ‘Nova Morada’ constando já na ficha técnica do jornal?

Das três, uma: ou a assessora e a jornalista são homónimas; ou há alguém a exercer funções eticamente incompatíveis; ou a Câmara perdeu uma assessora, o que talvez já lhe permita angariar mais uns trocos para trazer mais uma “truta” ao João Mota.

13 de jun. de 2007

Flops: não há dois sem três

Em 2005, depois de ter sido eleito, o actual executivo da Câmara Municipal de Sesimbra não cumpriu uma das suas promessas eleitorais: elaborar um orçamento participativo. Justificaram-se com a falta de tempo. Os três escassos meses que distavam da tomada de posse até ao final do ano não eram suficientes, isto apesar de a composição do executivo se ter mantido duma forma geral, com excepção da alteração das cadeiras onde cada um se sentava.

Em 2006, este mesmo executivo alterou substancialmente o seu conceito de prazos temporais e considerou que três meses era mais que suficiente para dar cumprimento à promessa. À pressa, de forma atabalhoada, promoveram-se debates com a população que tiveram lugar entre o final de Outubro e Novembro. Essas reuniões foram um desastre, os documentos de apoio só desajudavam. Das reuniões nada saiu e, findo o processo, o “orçamento participativo”... não era.

Em 2007, a autarquia apresenta um novo formato com o qual promete ultrapassar as falhas verificadas no ano anterior; «um modelo mais adequado às necessidades do concelho», dizem. Como tal, foi fixada para este Orçamento Participativo a verba de 500 mil euros do orçamento total da Câmara, distribuída com base na extensão territorial das freguesias e do número de eleitores. Segundo o presidente da Câmara tem anunciado, esta verba destina-se a «obras de pequena envergadura», ou seja, aquilo que a população é chamada a debater não é o orçamento, mas este “orçamentinho” para tapar buracos. Cada um é convidado a participar na reunião agendada para o local onde exerce o seu direito de voto e onde explica o que faria com o dinheirinho que a Câmara caridosamente lhe disponibiliza. Não é por acaso que os debates realizados, 12 no total (coisa pouca), não têm mobilizado a população. O processo é complexo e desmotivador. A par disto lançaram a campanha “Eu também decido”, pouco eficaz embora bastante panfletária, que de pedagógico tem muito pouco.Parece-me que depois das justas críticas com que este executivo foi confrontado em 2005 e 2006 quis, desta feita, montar um esquema tão certinho, tão quadrado, que se esqueceu do principal: criar um modelo adequado às necessidades e características do concelho e que de “Orçamento Participativo” tem muito pouco. A população é agora convidada a debater “peanuts”, com o mealheirinho que a Câmara entrega a cada área territorial. Infelizmente, é este o entendimento que a maioria que gere a autarquia tem de “orçamento participativo”.

12 de jun. de 2007

Site CMS

Visitei pela primeira vez o site da Câmara Municipal de Sesimbra que está ainda em fase experimental, como fazem questão de anunciar logo na homepage. Mas, depois de tanto aguardar a inauguração deste espaço há muito anunciado, aquilo que nos oferecem é... uma navegação turbulenta e enjoativa. Não me refiro, como é óbvio, a aspectos técnicos, mas sim informativos. Este é... e algo que me diz que continuará a ser, o calcanhar de Aquiles do actual executivo.

Ora vejamos...
Comecemos pelo que escrevem sobre a Carta Educativa do concelho: « (...) a Câmara Municipal de Sesimbra avançou para a elaboração da primeira Carta Educativa do Concelho. Contou para isso com a parceria do Conselho Municipal de Educação e com o trabalho dos técnicos da Autarquia». Não se estarão a esquecer aqui de ninguém? Ou melhor, duma certa e determinada empresa? Omitir não é mentir. Omitir, neste caso, é desinformar.
Noutra área do site é feita uma breve descrição dos diversos espaços culturais existentes no concelho. Não pude deixar de estranhar o facto de referirem que o ‘Espaço Atlântico’ «foi inaugurado a 25 de Junho de 2007». Algo que «foi» em data que ainda há-de vir é... curioso.
O site refere ainda os principais acontecimentos culturais. E pegando numa barbaridade que já uma vereadora tinha escrito algures, repetem que a ‘Exposição Internacional de Artes Plásticas’ cumpre o objectivo de «globalizar a expressão cultural e contrariar o obstáculo da interioridade». Dizer isto uma vez é mau, mas voltar a repetir é... asnice! «Globalizar a expressão cultural»?! «Interioridade»?! Deve ter sido nesta tirada brilhante que um certo e determinado ministro se inspirou para dizer que a margem sul é um deserto.

Bom, pela amostra junta, o melhor é não ir mais longe na exploração deste site. Continuem a mandar postais pois pode ser que dia acertem.

23 de mai. de 2007

Folha de couve, o Regresso

Há muito que não comentava aqui as pérolas publicadas no boletim municipal. E, de facto, este último merece não passar despercebido. Sobre a parca referência que é feita por esta publicação à Festa das Chagas, pouco mais haverá a acrescentar ao que já foi escrito no blogue Magra Carta. Não posso, porém, deixar de sublinhar o último parágrafo da nota que o ‘Sesimbra Município’ dedica ao assunto. Segundo este boletim, «durante as festividades, teve lugar a tradicional feira», e todos percebemos, como bons entendedores, que se estão a referir ao arraial, como sempre foi chamado, embora, verdade seja dita, o seja cada vez menos. Por fim, limitam-se a acrescentar que no «stand da autarquia foram apresentados alguns dos projectos que irão transformar Sesimbra nos próximos anos». Resumindo, a festa ficou reduzida, neste boletim, a uma breve nota em página par, sendo que metade do texto não diz nada sobre a festa propriamente dita, e a outra metade fala do stand da autarquia.
Na página 9 brindam-nos com mais uma pérola. Na breve intitulada ‘Junta na internet’, que noticia o novo site da Junta de Freguesia de Santiago, termina-se dizendo: «Idosos, crianças e estudantes também terão o seu lugar na página, como adiantou Félix Rapaz, presidente da autarquia»... Ai se o arquitecto vê isto...
Por outro lado, quase que como resposta a um post anterior que aqui publiquei, os responsáveis pelo boletim decidiram inserir uma fotografia do outro lado da manifestação contra o encerramento do SAP. Ou seja, já não nos aparecem apenas o recém-nomeado «presidente da autarquia», Félix Rapaz, nem o verdadeiro presidente da autarquia, Augusto Pólvora de braços cruzados, e mais dois ou três. Agora sim, há população reunida à beira da estrada. Embrulhem!
Continuando na saúde, o boletim fala duma acção de protesto que terá tido lugar ontem, organizada pela comissão de utentes da Quinta do Conde, apesar da informação de que a construção do centro de saúde avançaria ainda este ano. Sobre isto escrevem que «os utentes vão manter o protesto (...) para protestar». Bom, outra coisa não seria de esperar. Embora, como já se percebeu, há protestos pela saúde que podem servir para outras coisas. O importante é ter lá sempre um fotógrafo a jeito que apanhe a população reunida à beira da estrada e não... o outro lado. Assim, até parece que o protesto teve mesmo como principal objectivo... protestar.
Há também uma notícia sobre a hasta pública dum terreno na Avenida dos Náufragos, onde a autarquia pretende levantar mais um bocadinho de betão para turistas e 340 lugares de estacionamento. A sua construção, escrevem no boletim, vai exigir uma «remodulação» dos acessos existentes. Fiquei sem perceber se a ideia é mesmo remodelar ou voltar a modular. Seja como for, a intenção é meter mais prédios em cima da praia. Continuo sem perceber porque raio ainda chamam “arranha-céus” ao outro!Enfim, muito mais haveria para dizer, mas o texto já vai longo. Já agora... se querem ler má prosa, passem os olhos pelo artigo sobre a quinzena do peixe-espada preto.

14 de mai. de 2007

Porque andam eles tão caladinhos

O jornal ‘Sol’ noticia na sua edição de Sábado que o actual presidente da Câmara Municipal de Oeiras «continua a ser investigado pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), num inquérito relacionado com a viabilização de um empreendimento na zona protegida na mata de Sesimbra, quando era ministro das Cidades, no Governo de Durão Barroso».
O semanário adianta ainda que «o primeiro inquérito terminou há três semanas, com a decisão do Ministério Público de acusar formalmente o autarca de Oeiras, a sua irmã, Floripes, o jornalista Fernando Trigo e dois empresários, João Algarvio e Mateus Marques». Os arguidos têm agora 20 dias para «requererem ao tribunal a abertura da fase de instrução e rebaterem as acusações, mas até agora ainda nenhum o fez».

Ora, assim se percebe porque o caso da ‘Mata de Sesimbra’, onde um grupo imobiliário e uma Câmara querem construir uma cidade, foi deixado a marinar durante longos meses, depois de concluído o polémico e atabalhoado processo de discussão pública do plano de pormenor da zona sul desta área. Apesar do rol de irregularidades e processos mal resolvidos que envolvem o caso, o presidente da Câmara Municipal de Sesimbra, Augusto Pólvora, assumiu, publicamente, o projecto como seu e defendeu-o nas referidas sessões com unhas e dentes, lado a lado com os promotores.Portanto, se a coisa correr mal, só se pode esperar que os defensores do projecto, que assentam todo o desenvolvimento estratégico deste concelho única e exclusivamente no projecto imobiliário da Mata, saibam daí tirar as devidas conclusões. A queda dum processo desta dimensão não pode não ter consequências.

11 de mai. de 2007

Amén Pólvora

O Jornal de Sesimbra noticia que a comunicação social não pôde assistir à reunião de Câmara em que foram aprovados, por unanimidade (e de que outra forma poderia ter sido?), o Relatório de Gestão e as Contas de 2006.
Apesar da impossibilidade de assistir ao debate, o jornal noticía que o presidente da Câmara, Augusto Pólvora, concluiu que o desempenho da autarquia, em 2006, foi «globalmente positivo» do ponto de vista financeiro. Por seu lado, os vereadores parceiros da coligação que gere a autarquia (leia-se... todos os outros que compõem o executivo, independentemente da sua cor partidária) sublinharam alguns pontos fracos gesta gestão: «o significativo decréscimo nas despesas de capital», «a total ausência de investimento no que diz respeito ao saneamento básico na freguesia do castelo que era tido como aposta principal para esta freguesia» e a falta de investimento «na criação de novas áreas verdes, bem como no ajardinamento de espaços exteriores e urbanísticos». Apesar de apontarem o dedo, na ‘hora H’, quando realmente interessa, deixam passar tudo por unanimidade na Câmara, é o “Amén” geral à política de Pólvora; uma atitude de inaceitável passividade e negligência por parte dos vereadores que há muito desistiram de fazer oposição, afirmando-se desenvergonhadamente coniventes com uma gestão que tem muitos defeitos.Nunca perceberei porque razão se gasta tanto com uma Recepção à Comunidade Educativa, ou porque é que o saneamento básico da maior freguesia do concelho (em área) continua a ser uma prioridade eternamente anunciada, e também porque continuamos a ser um concelho onde os parcos espaços verdes existentes parecem nascer apenas de negociatas de contrapartidas entre a autarquia e ‘Lidl’, ‘Plus’, ‘SuperSol’, e afins. Há demasiadas dúvidas para apenas deixar andar...

7 de mai. de 2007

Erros crassos

O jornal do Sesimbrense noticiou na capa da sua edição de 13 de Abril: ‘Judoca sesimbrense renova título europeu’. No seu último número, no entanto, o jornal desdiz o dito porque afinal a Telma Monteiro não pertence ao Grupo Desportivo de Sesimbra como noticiaram, nem tão pouco é sesimbrense.
Custa a crer como é que uma gralha desta dimensão passa num jornal, independentemente do seu tamanho, cor ou feitio.
Agora, em Maio, o jornal publica uma errata repondo a verdade dos factos. Não, a Telma não defende o “cerise” do GDS. Não, a Telma não é pexita.
Mas mais inacreditável que o erro, é o editorial que a directora do jornal, Isabel Peneque, lhe dedica. A frase com que abre a prosa é arrasadora: «Só não erra quem nada faz!» e continua: «Não, esses também erram porque em nada contribuem para o crescimento do País que, com eles também gasta dinheiro dos impostos dos outros!». Mais adiante, Isabel Peneque continua a sua furiosa crítica: «Por que razão, em vez de olharem para os seus próprios erros, se consomem a exibir e criticar os erros dos outros?»
Eu fiquei deliciad@ com esta abertura! Ora bem, vamos lá a ver se nos entendemos. Todo este episódio se passou nas páginas dum jornal que, por acaso, se orgulha de ser o jornal mais antigo do concelho. É também um veículo de informação que, em princípio, será credível. Como tal, é um espaço onde as pessoas esperam encontrar alguma verdade.
Ora, em vez de assumirem o erro, e de o rectificarem da melhor maneira possível de forma a esclarecer os leitores sobre a desinformação publicada, limitam-se a apresentar uma curta biografia da Telma Monteiro retirada da Wikipédia e a escrever um editorial acusatório sobre quem ousou apontar o dedo ao jornal pelo erro descabido cometido.
Apesar de todo o conteúdo do editorial, que não sei, nem quero saber, a quem se dirige, parece-me que Isabel Peneque está mais interessada em dar uma “respostinha” aos críticos do que em informar os leitores.
Como se não bastasse, a directora afirma-se empenhada em fazer do Sesimbrense um jornal melhor, mas responde que não pode «agradar a gregos e a troianos». Esta é nova para mim! Então mas é suposto um jornal agradar a alguém? Não existem objectivos maiores como aquele de ser «um quinzenário para defesa dos interesses do concelho»?

Eu não espero que o Sesimbrense me agrade. Espero apenas que me informe com credibilidade e com verdade. A confiança que tinha na informação do jornal tem sido traída e o último número foi um duro golpe. Há coisas que demoram muito tempo a construir mas que podem perder de um dia para o outro. Pois bem, está na hora de voltar a construir.

4 de mai. de 2007

Manif

O Nova Morada desta semana inclui, logo na página 2, uma notícia sobre a manifestação contra o encerramento do SAP que teve lugar em 21 de Abril. Além do texto, o jornal publica uma foto da manifestação. Não, não há um magote de gente. Não, não há cartazes nem gente indignada. Na imagem surge uma câmara de televisão e seis pessoas alinhadas, como que a pousar em frente ao SAP, entre as quais reconheço: o presidente da Câmara, Augusto Pólvora, de braços cruzados; o presidente da Junta de Freguesia de Santiago, Félix Rapaz, com algo na mão (não, não é um cartaz) que me parece o saco do Expresso; e um elemento da Assembleia de Freguesia de Santiago, Carlos Soromenho, com mão no queixo, como que a meditar; e de microfone em punho, Florindo Paliotes da Comissão de Utentes.

Não participei na iniciativa, por isso também não sei se a imagem transmite aquilo que se passou na manifestação. Mas a dúvida cresce: terá isto sido realmente uma manifestação; uma mera chamada de atenção; ou tentou-se apenas, por outro lado, desviar a atenção?

Eu ainda sou do tempo...

Eu ainda sou do tempo em que pexito e camponês que se prezasse se engalava no dia de hoje.

Eu ainda sou do tempo em que uma ida ao arraial não terminava sem levar no bolso uma bola de serradura.

Eu ainda sou do tempo em as melhores farturas do arraial eram as redondas, «americanas».

Eu ainda sou do tempo em que o arraial enchia uma avenida de cima a baixo.

Eu ainda sou do tempo em que o arraial cortava o trânsito.

Eu ainda sou do tempo em que visitar o arraial era brincar com as malas e bolas penduradas à altura da cabeça nas diversas barraquinhas.

Eu ainda sou do tempo em que no arraial conseguia encontrar artigos que iam desde o boião para fazer bolas de sabão, às pilhas, ao cinto, passando pelo corta-unhas.

Eu ainda sou do tempo em que a procissão era uma sentida homenagem aos pescadores porque Sesimbra era e tinha orgulho em ser terra de pescadores.

Eu ainda sou do tempo em que, desde cedo, várias pessoas se acomodavam ao longo do trajecto da procissão para a ver passar.

Eu ainda sou do tempo em que no mar de gente que seguia atrás da procissão, os calçados não se misturavam com os descalços, no cumprimento de promessas.

O que os outros dizem de nós

A última edição do jornal ‘Nova Morada’ inclui uma entrevista a Rui Veloso, o «pai do rock português» que no passado Sábado deu um concerto no cine-teatro João Mota.
Vejamos o que disse o cantor sobre a vila que o recebeu, numa sala que, como sublinhou durante a actuação, é «tão pequena», que se sentiu como se estivesse na sua sala de jantar.

«Sesimbra ainda era um outro planeta e não tinha nada a ver com o que é hoje!»
(Referindo-se à Sesimbra que conheceu e visitou durante a infância.)

«Acho que em Sesimbra, como em outros concelhos do país, construiu-se demais. Deixamos construir sem planeamento.»

«Havia aqui um potencial extraordinário que obviamente foi estragado... talvez se possa corrigir alguma coisa, mas o furor do betão e dos empreiteiros estragou muito no nosso país.»

«Falta é um bocadinho de espaço que foi ocupado pelo betão, que não devia nem podia ser tanto.»(Referindo-se à praia.)

3 de mai. de 2007

ENTÃO E A MATA?

Proposta dissolução da Câmara do Bombarral
Inspecção-Geral da Administração do Território alega violação do PDM


«A Inspecção-Geral da Administração do Território (IGAT) propõe a dissolução da Câmara Municipal do Bombarral por alegada violação do Plano Director Municipal (PDM), num processo de legalização de uma habitação construída numa zona classificada como agro-florestal.» in SIC On-line

ENTÃO E A MATA?

27 de mar. de 2007

Dia Mundial do Teatro

“Sou a cena viva onde passam vários actores representando várias peças.”
Bernardo Soares

26 de mar. de 2007

No Sábado à noite

No Sábado à noite, o grupo ‘Corvos’ deu um concerto na fortaleza de Santiago integrado no programa da Câmara Municipal de Sesimbra (CMS) ‘Ond@Jovem 2007’. Apesar do frio o ambiente estava agradável e os artistas são bons artistas. Eis senão quando sou confrontad@ com um inquérito que me pedem encarecidamente que preencha. E pronto, a noite até estava a ser uma boa noite. A música era boa música. Até que surgiu... O inquérito.
Ao que me parece, há alguém na CMS... a modos que... fixado nas bebedeiras da juventude sesimbrense. Vejamos com mais atenção (porque o assunto o exige) o dito inquérito.
Perguntam, a dada altura, com qual das ideias o inquirido concorda ou não concorda:
a) O álcool aquece?
b) O álcool abre o apetite?
c) O álcool dá força?
d) O álcool facilita a digestão?
e) O álcool mata a sede?
f) O álcool é um remédio?
g) O álcool melhora o sexo?

Segundo indicam, esta questão é adaptada de um original do Dr. Luís Patrício, que, julgo ser o conhecido psiquiatra, pioneiro no tratamento das toxicodependências em Portugal.
Independentemente do autor e do “adaptador”, esta questão centra-se nalgumas ideias feitas cuja resposta é, obviamente, negativa para alguém de bom senso. Isto supondo que o inquérito se refere ao consumo excessivo.
Agora há, digo eu, quem passe por burro e bêbedo respondendo também com bom senso: há quem goste do Martini para abrir uma refeição, tomando-o para “abrir o apetite”. Há quem beba o digestivo no final, precisamente para “facilitar a digestão”. Há quem não dispense uma “loira fresquinha” numa tarde de calor para “matar a sede”. Há quem beba um copo de tinto por dia porque os médicos dizem que faz bem ao coração, etc. etc.. Tudo isto podem ser ideias feitas, mas não quer dizer que quem assim pense deva pertencer aos AA (alcoólicos anónimos).
Estamos a falar de um inquérito aplicado, essencialmente, a jovens. E será que poderemos depois acreditar na fiabilidade das respostas? Até porque o contexto em que os inquéritos estão a ser colocados, o timing escolhido, são, em tudo, duvidosos.
Mas vejamos mais algumas questões:
- A sua primeira bebedeira foi quando tinha a idade de ­­____ anos.
(Não existe a hipótese do inquirido responder que nunca apanhou uma bebedeira. Porque será?)
- A sua última bebedeira foi: há ___ dias; há ___ meses; há ___ anos.
(Continuam a não considerar a hipótese do inquirido responder que nunca apanhou uma bebedeira.)
- Qual foi a quantidade consumida no último dia em que bebeu álcool? Cerveja ___; Vinho ___; Whisky ___; Gin ___; Vodka ___; Licor ___; Shots ___; Outro ___.
(Não consideram a hipótese de o inquirido ser abstémio)
- Está a tomar medicamentos para os nervos?
- No último mês consumiu Pastilhas?
Bom, e chega de perguntas sem jeito nem amanho num inquérito absurdo.
Em nenhum espaço do questionário me explicam qual o fim a que se destina nem porque me perguntam se já pratiquei sexo sob o efeito do álcool, se o fiz com preservativo, ou com que idade tive a minha primeira relação sexual e se, também nessa altura, utilizei preservativo.
Claro que o destino do inquérito só podia ser um: forrar o fundo da gaiola do passarinho.
Ah, mas ouvi dizer que na próxima semana vão promover um debate sobre:
“Bebeu-se muito na noite de Sábado, 24 de Março?”.
Um evento a não perder.

22 de mar. de 2007

Maus prenúncios

Fui hoje confrontad@ com uma péssima notícia na imprensa regional. A ‘Costa Terra’ recebe amanhã o alvará de construção da Câmara de Grândola que dá luz verde ao início da construção do empreendimento turístico na ‘Aberta Nova’, em Melides. O projecto vai nascer em zona classificada como Rede Natura 2000 e tem sido por isso alvo das mais duras críticas, embora, vá-se lá saber porquê, os ministros do Ambiente e da Economia tenham declararado já o “interesse público” do investimento.
Que mais poderemos esperar de quem impede os pescadores de praticarem a sua actividade em zonas onde laboram há milhares de anos porque constituem um sério atentado à saúde do Parque Natural da Arrábida mas que dá a benção a este tipo de projectos.
Que mais poderemos esperar de quem aconselha aos empresários estrangeiros que invistam em Portugal porque os custos de mão-de-obra são os mais baixos da Europa, ou que anuncia que quer mudar o nome ‘Algarve’ para ‘ALLgarve’ (dito com british accent) de forma a internacionalizar ainda mais a região.
Contente da vida com a notícia sobre a ‘Costa Terra’ ficou, pasmem-se, o presidente da Câmara Municipal de Grândola que insistentemente afirmou que os empreendimentos previstos para o seu concelho «vão cumprir as melhores práticas em termos ambientais».
Onde é que eu já ouvi isto?..
Segundo a notícia do ‘Região de Setúbal On-Line’, o projecto inclui 3 hóteis, 5 aparthoteis, 4 aldeamentos turísticos, 204 moradias de turismo residencial, um campo de glofe, um centro equestre, uma clínica de medicina desportiva, geriatria e talassoterapia, dois clubes de ténis e ginásios, um fórum comercial e, e, e, e...
O ‘Costa Terra’ é o 3.º grande projecto turístico que arranca no concelho de Grândola no espaço de um ano, depois do Tróia Resort e da ‘Herdade do Pinheirinho’, da empresa... Pelicano.
Este último prevê a construção de 2 hóteis, 4 aparthoteis, 3 aldeamentos, 204 moradias e um campo de golfe.
Mas afinal quem são os “litoral killers”?

21 de mar. de 2007

No Dia Mundial da Poesia ...

No Dia Mundial da Poesia que hoje se comemora, volto a percorrer a agenda municipal ‘Sesimbra’Acontece’ na expectativa de encontrar alguma iniciativa digna de assinalar a efeméride. Folheio a publicação uma e outra vez e a páginas tantas lá descubro um ateliê de escrita criativa intitulado ‘Vamos Fazer... um Poema’, no pólo de leitura da Quinta do Conde, destinado a crianças a partir dos 6 anos. E... mais nada.
Claro que o Represas, o João Gil, a Teresa Salgueiro, o Rui Veloso e companhia vêm a caminho. E isso enche o olho. É também mais interessante promover ‘conversas’ com os jovens sesimbrenses sobre se se bebeu demais no Carnaval. Agora, à poesia não conseguimos pôr penachos nem lantejoulas.


Um poema:

Mar sonoro

Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho.
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.

Sophia de Mello Breyner Andresen

19 de mar. de 2007

A sorte de uns...

A mais recente edição do boletim municipal anda a dar grande falatório. Finalmente, parece que é desta que o cine-teatro João Mota vai abrir as suas portas e o programa anunciado é dum luxo asiático. Nomes como Teresa Salgueiro, Rui Veloso, Luís Represas e João Gil, entre outros, fazem parte do cardápio de encher o olho.
Estará, neste momento, alguém refastelado no seu gabinete a pensar: - Desta é que os calei. Tomem lá uma mão cheia de ‘coltura’ e fechem, bem fechadinhas, essas bocas maldizentes!
Realmente, nada a dizer em relação à escolha destes nomes sonantes da música portuguesa que vão encher de brilho aquela que será a principal sala do concelho. Mas, na verdade, tudo isto é completamente despropositado. De facto, a população do concelho merece isto e muito mais, mas não se compreende porque é que vão enfiar estes eventos numa sala para 240 pessoas... Tendo por certo que nenhum destes artistas reconhecidos virá a Sesimbra dar uma borla ou actuar em troca de 5 tostões (porque é disto que vivem) ou os preços dos bilhetes terão de ser muito elevados de forma a pagar as actuações, ou então este programa vai sair muito caro ao concelho porque todos teremos de pagar por um luxo a que apenas 240 sortudos poderão assistir de perto.
Até já ouvi dizer que há quem ande a meter cunhas aos funcionários da Câmara para reservar bilhetes! Havia necessidade disto?...
Até aqui, as actuações, como as que agora nos propõem, aconteciam quando o rei fazia anos e em espaços públicos como o ginásio ou a fortaleza de Santiago (que ainda para mais, andam sempre a anunciar que é nossa). Dum dia para o outro, trazem a mais fina flôr da música portuguesa, toda duma vez, e metem-na num espaço limitado... Não para quem quer, mas quem pode assistir. Parece-me que está a ser feito um esforço estúpido em nome de algo... a que chamo populismo. Provavelmente outros chamar-lhe-ão outra coisa qualquer.
Há gente, que ainda por cima tem poder para mandar nalgumas coisas que dizem respeito a todos nós, que não sabe que entre o 8 e o 80 existe um longo caminho chamado meio termo. E para conseguir actuar nessa área basta ter bom senso. Percebe-se que, numa política de Carnaval todo o ano, festa que é festa tem de ter brilho. Muito brilho, muita confusão. Mas é preciso ponderar muito mais coisas.
E por falar em festa... Já se diz por aí que vai haver um Carnaval de Verão...

16 de mar. de 2007

O que foi não volta a ser

Esta noite, o Centro Comunitário da Quinta do Conde será palco para mais um dos debates temáticos que a Câmara Municipal de Sesimbra tem vindo a promover no âmbito do processo de revisão do Plano Director Municipal do Concelho. Em cima da mesa estará hoje o tema ‘Acessibilidades e Infra-Estruturas’.
A última vez que me recordo de ter visto a população do concelho envolvida num debate sobre este assunto ocorreu por altura da apresentação do Plano de Acessibilidades realizado a propósito do processo da Mata da Sesimbra. Curiosamente, na sessão de hoje estará o conceituado professor do Instituto Superior Técnico, Nunes da Silva, responsável por esse documento.
E, mais uma vez, o temível assunto ‘Mata de Sesimbra’ é trazido à baila. Não é possível esquecer que o PDM ainda em vigor, publicado em Diário da República em Fevereiro de 1998, é escandalosamente subvertido pelo Plano de Pormenor da Zona Sul da Mata de Sesimbra que implica a revogação de diversos artigos, nomeadamente no que diz respeito ao uso e ocupação dos solos, índices de construção ou dimensão da intervenção. Como tal, esta revisão do PDM assume particular importância, na medida em que abre uma porta que permite levantar restrições que até aqui têm sido demasiado inconvenientes para os defensores da construção da cidade da Mata.
E, recorde-se, o presidente da Câmara, Augusto Pólvora, já assumiu e reiterou publicamente a defesa do projecto megalómano da Mata de Sesimbra. Assumiu perante todos que este é o “seu” projecto e defendeu-o, o melhor que pôde, ao lado dos promotores imobiliários.
Mas, em nenhuma circunstância, o mais importante instrumento de gestão do território, como o é um PDM, poderá ser subjugado ao betão e aos mais diversos interesses que se movem em relação à Mata de Sesimbra.
A qualidade de vida dos sesimbrenses e a defesa da terra deverão ser superiores a tudo o resto.
No debate da passada sexta-feira, várias foram as vozes que se levantaram pela defesa das tradições e pela revitalização e re-povoamento da vila de Sesimbra e contra a perda de identidade da freguesia rural e a betonização.
Por oposição, da mesa de oradores falou-se duma Sesimbra “de futuro”, preparada para receber o turista, publicitaram-se terrenos, defendeu-se a construção de empreendimentos para defender as zonas verdes.
Será que ainda não perceberam que aquilo que a população do concelho pretende é reaver a Sesimbra que tem vindo a perder e não construir uma nova Sesimbra onde não se reconhecem e que ameaça apagar irremediavelmente os seus traços distintivos?

15 de mar. de 2007

Desengasgo

Os fóruns são uma realidade diária no panorama radiofónico nacional. São conhecidos os da TSF e Antena 1 que todos os dias convidam dezenas de portugueses a opinar sobre os assuntos que marcam a actualidade nacional e até internacional.
Nos últimos dias, no entanto, descobri um novo fórum a que chamam ‘Fale mas não se Engasgue’ que passa, ao que me parece, entre as 9h e as 9.30h na Sesimbra FM (103.9 FM). Ontem debatia-se o facto dos privados considerarem a abertura de clínicas nos locais onde o governo anda a encerrar serviços de atendimento permanente e serviços de urgência. Há que reconhecer, e os autores deste “fórum” sabem com certeza, que a iniciativa não é sequer comparável ao que é feito nas rádios nacionais - até porque no caso da Sesimbra FM o fórum é conduzido por um animador de rádio e não por um jornalista – mas já é qualquer coisa. O que é certo é que as diferenças notam-se mesmo nas pequenas coisas.
Ontem, enquanto se debatia o problema da saúde, um ouvinte elogiava o governo de Oliveira Salazar por comparação com o actual e perante este comentário não houve qualquer tentativa, não de calar o ouvinte-opinador porque como todos os outros tem direito às suas opiniões mesmo que descabidas e insensatas, mas pelo menos de recentrar a discussão no tema em causa: o encerramento de serviço de saúde públicos e consequente abertura de privados. Hoje, apesar de ter apanhado o “fórum” sesimbrense a meio percebi que se falava de futebol. Inicialmente falava-se numa maior atenção que as Finanças atribuirão às contratações de jogadores, mas lá pelo meio comentou-se os automóveis dos jogadores, a construção dos estádios de futebol aquando do Euro 2004, as míseras reformas, o preço dos medicamentos...
A certa altura, o animador queixava-se da falta de participação dos ouvintes no ‘Fale mas não se engasgue’, facto que não, vá-se lá saber porquê, me surpreende.
Entretanto, aproveitei e fiquei a ouvir o noticiário sesimbrense das 9.30h. Não deixei de achar curioso o alinhamento das notícias: primeiro falou-se do programa ‘Onda Jovem’, iniciativa da Câmara Municipal de Sesimbra, e que terá início, se a memória não me falha, a 23 de Março (agora que penso nisso, tenho a clara impressão de que há já vários dias que este importante assunto da actualidade pexita tem vindo a ser noticiado por esta rádio... é que já só faltam 9 dias!); depois, anunciaram que o SAP de Sesimbra amanhã estará sem médico, facto que não afectará os habitantes da “freguesia de Santana” (palavras da jornalista) que podem recorrer à Unidade de Saúde Familiar; por fim, falou-se da acção da ASAE hoje em Setúbal que, curiosamente, está a marcar a actualidade a nível nacional por ser hoje o Dia do Consumidor.
Mas enfim, não vou discutir os critérios de alinhamento. Mas já que se optou por fazer a coisa desta forma, porque não promover um fórum sobre o ‘Onda Jovem’?. Sendo um assunto que merece honras de abertura de noticiário, talvez consiga levar mais pessoas a participarem no... ‘Fale mas não se Engasgue’!

14 de mar. de 2007

Mas afinal, bebeu-se ou não se bebeu?

Na sexta-feira 2 de Março, a Câmara Municipal de Sesimbra (CMS) e a Cercizimbra promoveram, no auditório Conde de Ferreira, a já tão badalada ‘conversa’ sobre o estimulante tema “Bebeu-se demais no Carnaval?”.
A CMS, que co-organizou esta (segundo consta, pouco concorrida) iniciativa, é, espantem-se, gerida pelos mesmos políticos que anunciaram uma política cultural de Carnaval todo o ano. Será por isso que anda tanta gente por aí em estado de embriaguez aparente? Adiante!
Já agora... o título - “Bebeu-se demais no Carnaval?” -, exposto assim em forma de interrogação não deixa de ser curioso. Seria a iniciativa uma forma de levar os foliões e outros que tais a expiarem os abusos? Que fraca ideia...
O alcoolismo juvenil é um problema concreto. Cada vez se bebe mais e mais cedo. Debater o problema é uma forma de lidar com ele. Mas andar por aí a perguntar se o pessoal acha que se abusou no Carnaval é... uma coisa sem jeito nem amanho. Mas de que cabecinha pensadora saiu esta tontice?
Esta ideia infeliz trouxe-me à lembrança uma outra iniciativa de má memória que, felizmente, alguém de bom senso conseguiu travar. Deve estar a fazer um ano que a Câmara Municipal de Sesimbra (a tal do Carnaval todo o ano e a quer saber das bebedeiras carnavalescas) lançou um concurso em que desafiava os mais jovens a arquitectarem uma mentira. A melhor, a mais original, seria devidamente premiada e divulgada a 1 de Abril.
Resumindo... os mesmos que incitam a mentira são os que agora querem avaliar, moralmente, as atitudes que uns e outros tomaram no Carnaval. Não há aqui qualquer coisa que não cola? Não notam aqui uma grande baralhação nestas cabeças?
Depois de tudo isto fiquei muito preocupad@ com o editorial que a vereadora da cultura e educação, Felícia Costa, escreve na última edição do Sesimbr’Acontece. Segundo ela, prevê-se que em 2011 Sesimbra esteja no grupo dos municípios mais jovens do país, razão pela qual a Câmara «tem vindo a adoptar várias medidas que permitam responder às necessidades e expectativas desta faixa etária».Ai... ai... Pela amostra junta todos temos muitas razões para ficar deveras preocupados.

22 de jan. de 2007

Não tóxico

Usar um eufemismo corresponde ao «acto de suavizar a expressão duma ideia substituindo a palavra ou expressão própria por outra mais agradável, mais polida». O antónimo de eufemismo é disfemismo, que corresponde a uma «expressão grosseira ou desagradavelmente directa, em vez de outra, indirecta ou neutra».
Lembrei-me desta lição de português ao ver a 1.ª página da última edição do jornal ‘Raio de Luz’, onde é dada a notícia do “falecimento” de um diácono. Nos jornais, que se querem directos e claros, há muito que não lia notícias sobre falecimentos. Hoje em dia, cada vez mais as pessoas "morrem" e pronto.
Não deixa por isso de ser curioso o facto de ter sid@ bombardead@ por disfemismos assim que abri o jornal. Em quase todas as páginas a palavra “aborto” surge de forma abrupta, repetida vezes sem conta. Não tenho nada contra a opção, afinal é de aborto que se trata, independentemente de no referendo de 11 de Fevereiro, o boletim de voto referir “interrupção voluntária da gravidez”.
Isto, no entanto, faz-me lembrar um episódio curioso ocorrido aquando do último referendo sobre a despenalização… do aborto. Uma jornalista visitou o chamado “Portugal profundo” para averiguar o sentido de voto dos eleitores do interior do país. A maioria das pessoas afirmava-se contrária à interrupção voluntária da gravidez mas os argumentos com que suportavam essa opção eram, no entanto, fugidios e pouco consistentes. A jornalista, tentando encontrar uma resposta mais clara reformulou a questão: «Então e se a sua filha, por acaso, tivesse um descuido, se engravidasse e não pudesse, por qualquer motivo, ter esse filho, o que faria?». A resposta à pergunta assim colocada fez luz na cabeça da inquirida: «Ah, então nesse caso, fazia um desmancho!».
“Interrupção voluntária da gravidez”, “aborto”, “abortamento” ou “desmancho”, chamem-lhe o que quiserem. Grave é o facto de a criminalização ou a despenalização serem quase expurgadas do discurso pseudo-informativo do jornal.
O importante, no entanto, é que, no meio de tudo isto, a população devidamente esclarecida se mobilize e vá até às urnas dizer de sua justiça. E a esse propósito, há que referir o mau exemplo do texto assinado por “Dom Duarte de Bragança”. Se, neste momento, informação e intoxicação se confundem perigosamente sobre o assunto, este texto é toxina pura.

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