31 de mai. de 2006

Dia do Pescador

Mais do que uma coroa de flores, entregue em frente ao "monumento ao pescador".

O primeiro homem

Era como uma árvore da terra nascida
Confundindo com o ardor da terra a sua vida,
E no vasto cantar das marés cheias
Continuava o bater das suas veias.

Criados à medida dos elementos
A alma e os sentimentos
Em si não eram tormentos
Mas graves, grandes, vagos,
Lagos
Reflectindo o mundo,
E o eco sem fundo
Da ascensão da terra nos espaços
Eram os impulsos do seu peito
Florindo num ritmo perfeito
Nos gestos dos seus braços.

Sophia de Mello Breyner Andresen

De taxi

Tal como todas as cartas de amor são ridículas, considero também ridículos os elogios que passam de blogue para blogue. Autores de uns comentam outros elogiando-os. Esses outros sentem-se na obrigação de ir aos blogues dos primeiros agradecer. E assim se vai andando numa troca de mimos. Há qualquer coisa de ridículo em tudo isto.
Apetece-me hoje, no entanto, dar aqui a conhecer um blogue que consulto diariamente: 'O Fogareiro'. O autor é um motorista de taxi em Lisboa que recolhe, nas suas corridas, estórias de breves minutos. É delicioso. (E... no que a elogios diz respeito, fico-me por aqui para não me tornar ridícul@. Cada um que tire as suas próprias conclusões.)
Para trás, na vida desse homem, ficou o 'Escrita em Dia', quando as funções que exercia eram outras. Bem diferentes.

30 de mai. de 2006

Vere a dores

Aproveito a hora mole de almoço, para abrir a "Sesimbr'Acontece". Não, nunca aqui falei desta publicação da Câmara Municipal de Sesimbra porque o Boletim tem-me mantido entretid@, não precisava de mais.
Aberta a agenda deparo com o editorial escrito por uma vereadora que, segundo consta tem nas mãos a pasta da Educação. A primeira frase diz tudo.
Diz que, para os mais pequenos, «Junho é um mês de antecipação do melhor tempo do ano: as férias grandes de Verão». Mas, como esse momento parece tardar, a Câmara Municipal de Sesimbra antecipa a diversão e convívio com amigos, através de um conjunto de eventos... que alguém apelida de culturais.
E eu a julgar que a vereadora da Educação ia dizer que Junho é tempo de estudo, porque se aproxima o final do ano lectivo, o que para muitos significa exames nacionais, provas globais e derradeira tentativa de subir o 2 para um magro e repuxado 3...
Dirão alguns que soo a velho do Restelo, mas confesso que ainda não me habituei a este clima de Carnaval todo o ano, de festas e mais festas. Ainda este fim-de-semana, um concerto dos 'Rádio Macau' encafuado na sala de baixo do Grémio fazia estremecer as redondezas. É a festa a bombar. A bombar até às 3 da matina. Os vizinhos que o digam.

Descubra as diferenças

Em Sesimbra vai ser assinalado o ‘Dia do Pescador’, no âmbito do qual haverá espaço para a ‘Semana do Peixe-Espada Preto’.
Nos Açores vai haver a ‘Semana do Pescador’ e o Dia do Peixe-Espado Preto.

«A cooperativa Porto de Abrigo vai construir dois barcos para a pesca experimental do espada-preto, um investimento de cerca de um milhão de euros no âmbito da reorientação da actividade nos Açores para espécies de maior valor.
O projecto, que vai ser apresentado na Semana do Pescador, que hoje se iniciou na ilha de Santa Maria, conta com financiamentos comunitários e regionais e pretende apostar espécies de maior profundidade com "stocks intactos", em vez de outras que já "estão no limite", adiantou o presidente da Federação das Pescas dos Açores.
Liberato Fernandes, que também preside à organização Porto de Abrigo, adiantou que os dois barcos, de 15 metros cada, serão construídos em fibra-de-vidro e alumínio no continente e, além de açorianos, vão ter tripulações compostas por pescadores de Sesimbra e Madeira, duas regiões com muita experiência neste tipo de pesca. (…)»
in Lusa, 29 de Abril

29 de mai. de 2006

O turismo em português

«Em 15 anos, a área construída no território nacional cresceu 42%. Algarve, Porto e Lisboa foram as regiões que mais contribuíram para este aumento. Um acréscimo que se fez à custa do desaparecimento da vegetação natural e das zonas agrícolas situadas em redor das grandes cidades. As conclusões são de um estudo intitulado Corine Land Cover 2000 - o único retrato actual da ocupação do solo português -, que analisou as transformações entre 1985 e 2000.»

«"Esta ocupação deve-se a uma industrialização tardia do País que se verifica na faixa litoral entre Setúbal e Viana do Castelo", considera Carlos Costa, do Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA).»

E o mau exemplo, a não seguir:
«No Algarve, o crescimento dos territórios artificiais chegou aos 55%, o índice de construção mais elevado do País. Mas o grave é que, devido à pressão turística, o aparecimento de inúmeros empreendimentos turísticos se deu à custa da delapidação do património natural. Os números mostram que nesta região desapareceu 20% da vegetação natural.»

Ler mais.

25 de mai. de 2006

Ainda os pareceres

ICN nega aprovação tácita do Plano de Pormenor da Mata de Sesimbra

«Os promotores do projecto turístico da mata de Sesimbra defenderam (…) [ontem] que o Instituto para a Conservação da Natureza (ICN) já aprovou "tacitamente" o Plano de Pormenor, mas os responsáveis daquele organismo lembram o parecer desfavorável emitido em 2005.
Segundo José Caetano, presidente da Aflops (Associação de Produtores Florestais da Península de Setúbal), entidade promotora do projecto turístico da mata de Sesimbra, as questões invocadas para justificar o parecer desfavorável do ICN em 2005, já foram ultrapassadas através da elaboração de um novo regulamento do Plano de Pormenor.
De acordo com o dirigente da Aflops, o ICN emitiu, em 2005, um parecer desfavorável sobre o Plano de Pormenor da mata de Sesimbra com base numa "desconformidade entre aquilo que era proposto pelo regulamento do plano de pormenor da mata de Sesimbra e aquilo que era o plano de ordenamento em vigor no Parque Natural da Arrábida".
"A proposta de regulamento referia que aquela área seria gerida conforme o Plano de Ordenamento do Parque Natural da Arrábida (POPNA), que se encontrava em discussão pública, mas o ICN, numa visão jurídica que respeitamos, alegou que o que estava em vigor era uma portaria e não o novo regulamento do POPNA", disse José Caetano.
(...)
O dirigente da Aflops considera que as alterações entretanto efectuadas pela autarquia no regulamento do plano de pormenor e a entrada em vigor do novo regulamento do Parque Natural da Arrábida, sanaram as desconformidades que motivaram o parecer desfavorável emitido pelo ICN.
José Caetano alega também que embora tivesse emitido o parecer desfavorável sobre o Plano de Pormenor da Mata de Sesimbra em 2005, o ICN não se pronunciou na fase de concertação sobre a nova proposta de regulamento (com as alterações entretanto efectuadas pela autarquia) do Plano de Pormenor da mata de Sesimbra, aprovando-a tacitamente.
Contactado pela Lusa, o Gabinete de Comunicação do ICN garantiu, no entanto, que a Câmara de Sesimbra ainda não formalizou o pedido para a reunião de concertação e que a segunda versão do regulamento do plano de pormenor também ainda não deu entrada naquele instituto.
Num esclarecimento por escrito, o gabinete salientou que o novo regulamento do plano de pormenor ainda não foi formalmente enviado ao ICN
, admitindo, no entanto, que o instituto já recebeu o texto da nova versão do regulamento.
"No final da semana passada, a presidência do ICN tomou contacto com o texto da nova versão do regulamento, que supostamente incorporará as recomendações indicadas no parecer de 2005. Contudo, trata-se de um documento informal, enviado por e-mail, onde não consta ainda nem a cartografia nem o zonamento", esclareceu.
(…).»

Notícia publicada pela agência Lusa em 24 de Maio de 2006

24 de mai. de 2006

O prometido: A couve III

A notícia sobre a discussão pública do Plano de Pormenor da Zona Sul da Mata de Sesimbra é, em minha opinião, o ponto alto do ‘Sesimbra Município’ de Maio. Aqui, mais grave do que os erros gramaticais e afins, é mesmo, na minha opinião, a tentativa de deturpação/ocultação da verdade.
Quem assistiu às discussões sabe que as dúvidas levantadas pelo público não se prenderam «essencialmente, com questões ambientais, natureza do projecto, volumetria dos edifícios a construir, bem como de número de postos de trabalho, número de camas e utentes dos empreendimentos turísticos», como é referido na notícia. Também se falou nisto tudo, mas a ligeireza com que o texto é escrito, não expressa as preocupações fundamentais da população. Não me cabe a mim fazer o trabalho que a Câmara não faz, mas aproveito para esclarecer que foi abordada ilegalidade inicial deste projecto e transferência de direitos de construção de uma área no Meco para a Mata; falou-se da enorme pressão urbanística que será exercida na Mata, na medida em que o projecto prevê albergar mais camas do que aquelas que actualmente existem em toda a Região de Turismo da Costa Azul; criticou-se o ataque que é feito ao Plano Director Municipal (PDM) em vigor por este Plano de Pormenor; foi questionada a possibilidade de os investimentos futuros serem desviados do concelho para aquela área da Mata uma vez que, segundo a lei, nada impede que 50 por cento do empreendimento seja utilizado como primeira residência; e, muito, muito mais.
Mais à frente no texto, é dito o seguinte: «Quanto à existência do Estudo de Impacte Ambiental sempre foi esclarecido que, apesar de legalmente não existir legislação portuguesa que regule a realização de tal documento, por falta da transposição para o ordenamento jurídico português da directiva comunitária aplicável, foi elaborado um Estudo Ambiental que, apesar da lacuna da lei portuguesa, respeita a mencionada directiva, em todos os seus pontos». A qualidade da prosa é a que se conhece. Contra isso… batatas. Mas o (fraco) conteúdo perceptível, é curioso. Ora bem, logo no início da frase, onde se lê «quanto à existência do Estudo de Impacte Ambiental» deve ler-se «quando à ausência/inexistência do Estudo de Impacte Ambiental». E isso faz toda a diferença. Até porque o Estudo Ambiental referido e apresentado nas sessões de debate não substitui, de maneira nenhuma, o outro. Trata-se antes de um trabalho desenvolvido por José Manuel Palma, pago pelos promotores do projecto imobiliário que não avalia o impacte ambiental de nada. Antes se limita a comparar dois cenários: a Mata com a aplicação do PDM e a Mata com a aplicação do Plano de Pormenor. Sobre esta última, é interessante porque na apresentação de um projecto imobiliário nunca se fala em casas, pessoas, carros e poluição, mas sim de pássaros, reflorestação e paraísos na terra. Ah, sobre a situação actual, nem uma palavra.
Mais à frente no texto conseguem fazer pior: «O Plano mereceu aprovação de uma das maiores associações ambientalistas do mundo: a World Wildlife Fund (WWF) e o elogio de outra – a Greenpeace, tendo a primeira delas já repudiado as posições assumidas por algumas associações ambientalistas portuguesas, em carta aberta à comunicação social».
Ora, essas «algumas» associações ambientalistas são apenas as três principais ONGA’s nacionais (Organizações Não Governamentais Ambientais) – Quercus, Liga para a Protecção da Natureza (LPN) e Geota – que, pela primeira vez, afinaram pelo mesmo diapasão para dizer “não” ao projecto. Mas, sobre a posição destas, nem uma palavra, nem um erro ortográfico, nem uma vírgula mal colocada.
Mas há ainda pior. Uma outra notícia dá ainda conta do prolongamento, por mais 22 dias úteis, do período de discussão pública deste Plano de Pormenor de forma a colmatar uma falha: «a ausência confirmada, em alguns locais de consulta dos pareceres da CCDR e outras entidades». Esses «alguns» locais foram todos, excepto a Câmara Municipal de Sesimbra onde o processo para consulta estava completo. As «outras entidades», são, por exemplo, a Direcção-geral do Turismo ou o Instituto de Conservação da Natureza (ICN) que, por sinal, até são bastante críticos em relação ao projecto da cidade da Mata.
Mas, para que os cidadãos não se sintam defraudados depois destes atropelos naquele que prometia ser um processo exemplar, neste boletim é disponibilizado um parecer! Ou melhor o parecer! O parecer da WWF, aquele de que ninguém quer saber, até porque já toda a gente percebeu o papel dessa entidade neste processo.
Será que alguma vez lhes demos razões para menosprezarem tanto a nossa inteligência?...
The last, but not the least… tenho ainda de salientar a referência feita à participação popular no processo de discussão. Diz a notícia que, no que diz respeito a «participações por escrito recebidas pela Câmara Municipal, os contributos não excederam uma dezena, sendo que, apenas algumas delas apresentam propostas concretas de alteração ao Plano». Será que nesta contagem estão incluídas as notas que o presidente da autarquia tomou sobre as intervenções do público nas sessões públicas?

23 de mai. de 2006

Boletim folha de couve II

O ‘Sesimbra Município’ de Maio é, mais uma vez, exemplo daquilo que não se deve fazer, ou melhor, escrever. Os atentados à língua portuguesa atropelam-se em frases mal construídas e mal estruturadas. Isto para não falar da desinformação e das mentiras publicadas. É de deitar as mãos à cabeça!
Frases demasiado compridas, sem sentido, ausência de vírgulas, vírgulas colocadas onde não fazem falta, palavras mal separadas… Enfim… Um número infindável e vergonhoso de erros, falhas e omissões.
Deixo aqui, mais uma vez, apenas alguns exemplos da arte de mal comunicar.

«A Fortaleza de Santiago, um dos ex-libris de Sesimbra, já está aberta ao público durante os 365 dias do ano, das oito às vinte horas (de 15 de Setembro a 30 de Maio), e das oito à uma hora da madrugada (de 1 de Junho a 15 de Setembro) (…)»
Notícia sobre o acordo assinado em relação à ‘abertura’ da Fortaleza (pág. 3)
Alguém consegue perceber qual o horário que funciona no dia 15 de Setembro? Ou quando chegar o dia atira-se a moeda ao ar?

«O acordo de intenções permitirá à Câmara, utilizar os espaços públicos (…)»

Idem
A Edite Estrela fartou-se de repetir que nunca se separa o sujeito do verbo com vírgulas. Na 'couve' ninguém a ouviu.

«Estão previstas a realização de várias iniciativas durante os próximos meses, sobretudo no Verão.»
Idem
«Está prevista» é a forma correcta, pois refere-se à «realização» e não às «iniciativas». Capice?

«Na Quinta do Conde, a actual ETAR irá ser substituída por outra, completamente nova e adequada às necessidades da população.»
É impressão minha ou esta ETAR já foi inaugurada, ‘à pressão’, pela CDU, em período pré-eleitoral, antes do reinado de Amadeu Penim?

«As obras e investimentos na área da recolha, transporte e tratamento de esgotos vão assistir, nos próximos tempos, a um significativo incremento.»
Notícia sobre as obras de saneamento (pág. 6)
As obras assistem a incrementos… Sim, eu percebo. É a escrita surrealista. Demasiado ‘à frente’ para um(a) comum pexit@, como eu.

«Assim, iniciou-se em Abril a recolha de entulhos e o seu transporte ao aterro sanitário da Amarsul (…)»
Notícia sobre a remoção de entulhos das matas (pág. 7)
Que tal «para o aterro» ou «até ao aterro»?

«Em breve iniciar-se-á a construção de uma nova conduta distribuidora da Maçã/Alto das Vinhas.
A obra estará concluída em Agosto e irá permitir a regularização do abastecimento de água (…).»
Notícia sobre as obras de abastecimento de água (pág. 7)
O correcto seria «na Maçã» e «permitirá». Para quê usar dois verbos se se pode usar um para dizer o mesmo?

«Os trabalhos de regularização e pavimentação da Rua Serra da Arrábida na Boa Água 1, zona nascente, já se iniciaram
Notícia sobre as pavimentações na Quinta do Conde (pág. 8)
Será que aquilo não lhes soa mal?!

«A abertura da Lagoa de Albufeira ao mar é [verbo ser, presente] um momento que, no passado, chamava [verbo chamar, pretérito imperfeito], a atenção de dezenas de pessoas que se deslocavam [verbo deslocar, pretérito imperfeito] ao local.»
Notícia sobre a abertura da Lagoa de Albufeira ao mar (pág. 8)
Anda alguém perdido no tempo (dos verbos)? Vejam lá se percebem: a abertura da Lagoa é um momento que chamava pessoas. Será que isto também não lhes soa mal?!

«Este ano, surpreendentemente, esta instituição comunicou à Câmara Municipal de Sesimbra que não iriam desenvolver o processo (…).»
Idem
A instituição não «iriam»… Ela é só uma!

«Essa participação deu origem numa primeira fase, à criação da imagem gráfica das comemorações e à exposição ‘Abril Rostos Mil’, que esteve patente durante mais de duas semanas, na Rua da Fortaleza em Sesimbra.»
Notícia sobre as comemorações do 25 de Abril (pág. 10)
Chamar exposição a uma lona de grandes dimensões… é, convenhamos, um bocadinho exagerado. E dizer que esteve «patente» é, talvez, excessivo. Mas eles lá sabem!

«(…) realçando no final que este encontro é o nosso contributo para que a participação mais a responsabilidade, igual ao desenvolvimento, seja um objectivo a alcançar em cada ano que passa
Estas aspas encerram uma citação que não se sabe onde começa… Já para não dizer que o conteúdo é, completamente, imperceptível.

«Seguiram-se os discurso das individualidades presentes na mesa (…)»

Notícia sobre o aniversário da Sociedade Musical Sesimbrense (pág. 12)

«Sentimento de gratidão partilhado pela Presidente da Assembleia Municipal, por uma colectividade que destacou como “Um espaço de liberdade, de democracia”, e aberto a toda a comunidade.»
Idem
Não andava por aí um “se” perdido? E porque é que a citação começa com maiúscula, assim como “presidente”?
E… já agora, o adjectivo «aberto» [masculino] qualifica a colectividade [feminino]? Vamos acreditar que é o «espaço» que é «aberto» porque até a tolice tem limites.

«Entre 2 e 11 de Junho, no recinto da Feira Festa (Rua Sacadura Cabral) decorrerá mais uma edição da Feira-Festa da Quinta do Conde.»
(pág. 15)
É sempre importante saber que a Feira-Festa decorre no recinto da Feira-Festa. É que, às vezes, isso podia passar despercebido.

A notícia sobre o Dia da Europa é, em si e por si, uma pérola. Aproveito para destacar o desfecho da prosa:
«Também durante o mês de Maio pode visitar uma exposição bibliográfica ligada à questão da Europa e da Cidadania, onde se destaca o “Dicionário de Termos Europeus” cuja obra (o que é que isto faz aqui?!) reúne cerca de 500 definições e aborda diversos temas que têm como denominador comum a Europa e a União Europeia, esclarecendo inúmeros termos utilizados na chamada linguagem Europeia (…).»
Ah! Agora é que percebi! A folha de couve é escrita em “linguagem europeia”!

«A queima do Judas no sábado de Páscoa, pelo meio-dia, recuperou de forma exemplar uma tradição que se estava a perder no tempo.»
Notícia sobre a ‘Onda Jovem’ (pág. 16)
Ao que parece, há quem não tenha a mesma opinião.

«O torneio, reuniu doze equipas, nos escalões de Escolas e Infantis, entra as quais, os actuais Campeões Distritais de Infantis (…).»
Eu entro, tu entras, ele entra. Entramos todos para ficarmos uns entre os outros.

Desta feita, fico-me por aqui. Já chega de maus exemplos. E neste boletim eles multiplicam-se. Este post dá conta de uma pequena, mas significativa, amostra.

Os que já leram o Boletim Municipal perceberam, certamente, que ‘saltei’ as páginas dedicadas à ‘Mata de Sesimbra’. Mas isso merece um novo post. Fica para amanhã.

19 de mai. de 2006

A primeira pedra

Às vezes dou comigo, sabe-se lá porquê, a desbravar o site da Câmara Municipal de Sesimbra na esperança de encontrar algo de novo. Alguma coisa que explique ou justifique a aposta feita pelo actual executivo num departamento de informação. Raramente encontro fundamentos. Este é apenas mais um…
É impossível (infelizmente) não reparar no atentado que é o empreendimento ‘Mar da Califórnia’. Os nossos governantes não terão, certamente, faltado à sua inauguração feita com toda a pompa e circunstância. Mas no site da autarquia, que faz questão de sugerir alojamentos aos potenciais turistas, não há qualquer referência ao empreendimento turístico. Não que realmente me importe com a omissão. Até porque, na minha opinião, a única solução para aquele atentado urbanístico e ambiental é mesmo a implosão. Se "aquilo" não merece publicidade nem sequer uma referência, é porque concordarão comigo na inutilidade da coisa. Como tal, acabemos com ele! Boa? Serão, seguramente, poucos os que hesitarão em atirar a primeira pedra. (Era bom que a coisa se resolvesse apenas assim.)
Já agora… da repetição/alargamento da discussão pública sobre a pseudo-eco-cidade da Mata de Sesimbra… nem uma palavra. Confesso que estou ansios@ para ver como vai a autarquia justificar o facto, depois de tanto propalar a correcção com que o processo foi conduzido. Mas, verdade seja dita, com a ausência de informação também se faz propaganda.

18 de mai. de 2006

Diagnóstico

Algo vai mal neste país.
Alguns sintomas da doença:

1) Este ano, os portugueses trabalharam 137 dias (mais de um terço do ano) para gerar riqueza suficiente para pagar os impostos e Segurança Social, segundo um estudo da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, citado hoje pelo Jornal de Notícias.

2) Há uma vaca desaparecida em Lisboa. A Vaca Cowpyright deixou o local onde estava exposta na madrugada de 17 de Maio. A organização da CowParade Lisboa 2006 deu o alerta às autoridades, mas até agora não há sinal da obra de arte com mais de 400 quilos, da autoria de Paulo Marcelo. Só a base, na qual a vaca está colocada, pesa 350 quilos. A peça, em si, chega aos 65 quilos. Mas todo o conjunto desapareceu.
In Portugal Diário

17 de mai. de 2006

Democracia exigente

A Iniciativa Legislativa do Cidadão, um instrumento conseguido na última revisão constitucional, que deu azo à Lei 17/2003, de 4 de Junho, tornou possível a discussão no Parlamento de assuntos e acções vindas de fora do círculo partidário. Para o conseguir, no entanto, é necessário reunir 35 mil nomes (subscritores), com o respectivo número do BI e do cartão de eleitor.
Note-se que a lei em vigor exige apenas 7500 assinaturas para a constituição de um partido e igual número para propor um candidato às presidenciais.
É apenas uma questão de números...

15 de mai. de 2006

Golfe em Sesimbra para engordar BES

O Grupo Espírito Santo (GES) está a apostar na construção de campos de golfe, estando na calha um investimento de 80 milhões de euros. Alguns desses campos estão previstos para a Mata de Sesimbra, segundo confirma a notícia do jornal Expresso. «Em 2005, o negócio de golfe do GES cifrou-se em €2,2 milhões, prevendo-se para 2006 um crescimento de 41%, para €3,1 milhões.

'Turismo: riqueza ou devastação' por Miguel Sousa Tavares

Aqueles que de há muitos anos determinam a política de turismo em Portugal vêem-me como um crónico inimigo. De facto, sou: nunca me cansei de denunciar as barbáries cometidas em nome do turismo, particularmente na costa alentejana e Algarve - o que melhor conheço - e de questionar o que, contas feitas, o país ganha com as suas políticas e o que poderia ganhar com outras. Paulatinamente, fui vendo destruir terras magníficas, como Sesimbra, Vila Nova de Milfontes, Porto Covo, Lagos, Portimão, Armação de Pêra, Carvoeiro, Albufeira - isto para não passar além do norte do Tejo e falar de coisas que vão de Cascais, esse crime sem castigo, até Caminha. Da fronteira do Minho à do Guadiana acho que as minhas razões de revolta estão à vista de todos e, se tenho poucas dúvidas de que o país pouco ganhou em troca do muito que perdeu, não tenho dúvidas algumas de que muitos saíram a ganhar, e bem, de trinta anos de vandalismo pseudo-turístico.
O meu inimigo não é o turismo: é este tipo de turismo predador, que consome os recursos naturais de um país até à exaustão e a seguir muda-se para outro. Confesso, porém, que não é sem uma profunda nostalgia que me rendo à inevitabilidade do turismo de massas que, democratizando as viagens, matou de vez a própria ideia de viagem. Quando, hoje em dia, temos de marcar hora para visitar os Uffizi com três dias de antecedência, porque há milhares de turistas à espera de vez e para quem é rigorosamente indiferente perceber porque é que o Giotto descobriu a profundidade de campo ou porque é que um Botticelli é imediatamente reconhecível, não posso deixar de me interrogar se o objectivo do turismo cultural, por exemplo, é ser o destino de todos ou daqueles que são capazes de o ver com olhos de ver. Todavia, o que não tem remédio, remediado está. O turismo de massas é hoje uma conquista universal dos povos e uma fonte de receitas para os países recipiendos. Só que há formas e formas de gerir esta realidade, sem o que não faria sentido falarmos de políticas de turismo. Em Portugal, de há trinta anos para cá, a única política detectável a olho nu é a da quantidade: quantos mais turistas - em hotéis, aldeamentos, vivendas, pendurados nas dunas ou nas falésias - melhor para o país. Verdade? Não, mentira redonda, que os números, aliás, facilmente revelam: dez vezes mais turistas do que há trinta anos representam praticamente o mesmo volume actualizado de divisas do que então. Porque quanto maior é a quantidade, pior é a qualidade e mais baratos têm de ser os preços. E hoje, quando destinos inacessíveis até há poucos anos são alcançáveis a preços de saldo na net, as supostas praias desertas do Algarve (referência obrigatória de qualquer campanha de promoção no estrangeiro) cada vez irão convencer menos incautos. Basta, aliás, atentar no próprio exemplo dos portugueses, que em número galopante todos os anos vêm trocando o Algarve pelo Brasil.
Tudo isto é óbvio, pacífico e lógico. E, se não mudamos de política, se não parecemos capazes de compreender que a solução não é a fuga em frente, nem a construção até ao último metro quadrado disponível de dunas ou de falésia, é porque a turma que determina a política de turismo é notoriamente incompetente e está enredada numa teia de interesses cruzados entre os promotores turísticos, os autarcas e os financiadores locais dos partidos políticos. Enquanto a coisa não rebentar de exaustão e houver ainda dinheiro a ganhar, eles não mudarão de estratégia - mesmo que para tal exijam, como os autarcas algarvios, que não haja planos de ordenamento nem regras de contenção, «inimigas do desenvolvimento».
A primeira coisa a fazer seria tornar letra de lei uma promessa constante do programa eleitoral do actual Governo: mudar o sistema de financiamento das autarquias, desligando as receitas das autorizações de construção, de modo a que não sejam mais ricas as Câmaras que tudo permitem e tudo vandalizam. A segunda coisa, seria tornar os planos dependentes daquilo a que se chama «crescimento sustentado» (quer fazer um campo de golfe? Muito bem, pode ser útil para a terra e para o turismo. Mas de onde vem a água, é reaproveitada ou é nova? Situa-se em zona de Reserva Ecológica ou Agrícola, contaminando os solos, com os fertilizantes e químicos utilizados? Quer fazer uma urbanização nesta praia? Muito bem, vamos ver: quantas pessoas comporta a praia, não estará já saturada? E a rede eléctrica aguenta? E os esgotos, como serão tratados? E a rede municipal de estradas, o estacionamento, o hospital local, estão preparados para absorver mais quinhentas pessoas?). A terceira coisa seria pôr fim a essa descoberta jurídica feita nos últimos dias de mandato de um secretário de Estado de um anterior Governo, chamada «projectos estruturantes» (hoje rebaptizados de «interesse nacional»), e por meio da qual se reprime o pequeno crime urbanístico e se incentiva o grande crime. E a quarta medida seria liquidar igualmente outro expediente jurídico chamado «deferimento tácito» administrativo para as autorizações de construção, que deu origem a esses milhares de «direitos adquiridos» sobre a paisagem do país, fazendo as delícias de construtores, advogados e juristas e permitindo a governantes e autarcas exclamar com ar compungido que «é uma pena, mas não há nada a fazer!». Quatro simples medidas legislativas: apenas isto e todo o cenário mudaria. Poderíamos deter a caminhada para o abismo, poderíamos salvar o pouco que ainda resta, poderíamos tornar a indústria turística dependente da qualidade, da inovação e da iniciativa e não mais da especulação, da destruição e da corrupção. Por que é que não as tomam? Porque isso iria mexer com todo o sistema oculto instalado. Os juízes teriam que se dar ao incómodo de fazer justiça e meditar sobre o conflito de direitos entre os direitos da comunidade e os de alguns. Os advogados e os sempre disponíveis jurisconsultos iriam gritar que o Estado de Direito estava ameaçado. Os funcionários do Turismo iriam sentir que o mundo lhes desabava aos pés. Os autarcas marchariam sobre S. Bento, contra o «centralismo» e os «inimigos do desenvolvimento». Os financiadores locais e nacionais dos partidos iriam bater à porta dos ministros e deputados a perguntar se tinham endoidecido. As populações manifestariam também a sua indignação, convencidas de que, sem mais mamarrachos à beira-mar, não haveria centros de terceira idade nem lindas rotundas com estátuas pós-modernistas da autoria da cunhada do primo do presidente da Câmara. E não faltariam jornalistas «sensibilizados» para a causa do «país profundo». E todos, afinal, desaguariam na eterna e lúcida exigência: «Venha a regionalização, que não aguentamos mais a ditadura do Terreiro do Paço!» E você, leitor, o que prefere: esta «ditadura» ou a «democracia» deles?

in jornal 'Expresso' de 6 de Maio

12 de mai. de 2006

O parecer que desaparece e quando aparece parece

ICN 'chumba' Mata de Sesimbra
O Plano de Pormenor da Zona Sul da Mata de Sesimbra, em fase de consulta pública, integra 1.200 hectares do Parque Natural da Arrábida, o que o Instituto de Conservação da Natureza (ICN) considera uma violação da lei. Os técnicos consideram que não existem razões que justifiquem a elaboração de um plano de pormenor naquela área do Parque Natural, pelo que a proposta configura uma «usurpação do poder da administração central pelo poder local».«Face ao exposto, emite-se parecer desfavorável, devendo o PPZSMS confinar-se à área territorial exterior aos limites do Parque Natural da Arrábida», refere o documento. Segundo declarações da directora do PNA à Lusa, o PPZSMS «não respeita os parâmetros do Parque», já que estes 1.200 hectares são sujeitos a um regulamento distinto.Para a directora do PNA, o plano de pormenor «não tem em conta os nossos parâmetros. Ao considerar esses 1.200 hectares como zona "non aedificandi" permite-se um aumento dos índices de construção nos terrenos confinantes. O interesse de incluir esta área no PPZMS é precisamente aumentar os índices, porque o que conta é a zona global». A responsável acrescentou que «há áreas em que se pode construir dentro dos parâmetros do Parque».O parecer alude ainda à «violação da lei por desrespeito do princípio da hierarquia e da conformidade na relação existente entre o PPZSMS e o Plano do Parque Natural», já que o regime especial de ocupação, uso e transformação do solo nesta área protegida sobrepõe-se aos planos municipais de ordenamento do território e deve ser respeitado por estes.A lei impõe assim a nulidade aos planos elaborados e aprovados em violação de qualquer instrumento de gestão territorial com o qual devessem ser compatíveis. No entanto, o documento relativo à Mata de Sesimbra que se encontra em consulta pública continua a incluir os 1.200 hectares do Parque Natural da Arrábida.«A Câmara alega que o acordo celebrado entre o Estado, o município de Sesimbra, a Aldeia do Meco, S.A., e a Pelicano, S.A., relativo à Mata de Sesimbra incluía esta área, mas esse não é o nosso entendimento», salientou Madalena Sampaio.A responsável do PNA adiantou que, apesar da consulta pública estar a decorrer sem haver um entendimento prévio quanto à parcela do PNA incluída no PPZSMS, «terá de haver posteriormente uma fase de concertação entre as entidades da administração local e central para conciliar estas divergências», já que o parecer do ICN é vinculativo.O PPZSMS prevê a construção de uma "eco-cidade" com 8.000 alojamentos e capacidade para 30 mil pessoas numa zona florestal com cerca de 4.800 hectares. O projecto obteve o aval dos ambientalistas do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), por considerarem que o projecto oferece garantias de sustentabilidade, mas foi "chumbado" pelas principais associações ambientalistas portuguesas.O projecto da Mata de Sesimbra, promovido pela imobiliária Pelicano, é o primeiro de uma série de empreendimentos que a One Planet Living (entidade parceira da WWF) pretende desenvolver nos cinco continentes para mostrar que é possível construir habitações e espaços de lazer sem prejudicar o ambiente e a conservação da natureza.

Notícia publicada em 12 de Maio no 'Região de Setúbal'

Ainda a dívida

O Semanário Económico anuncia hoje em manchete: "Câmaras do Porto e Lisboa têm o dobro da dívida permitida". O jornal especifica que há uma lista de 57 municípios que podem endividar-se (ainda) mais em 2006, e que nessa lista encontram-se Sesimbra, Setúbal, Lisboa, Porto, Gaia Vila do Conde, Figueira da Foz e Loures.
Uma Mata vinha mesmo a calhar...

Milho-mulher

Sou um(a) defensor(a) e atent@ ouvinte/telespectador(a) dos fóruns nos meios de comunicação social. É interessante confrontar as diferentes posições e pontos de vista sobre os mais diversos temas, expostos espontaneamente e sem preconceitos. Além disso, como defende o director de informação da Antena 1, João Barreiros, esses programas são também úteis, na medida em que «funcionam como uma espécie de termómetro social importantíssimo». É, por vezes, no entanto, difícil controlar os participantes mais impetuosos, desbocados, exaltados. Mas isso faz parte do conceito do programa. Tudo pode acontecer. Que o diga a jornalista Marta Atalaya, da SIC Notícias. Na passada quarta-feira, no 'Opinião Pública', esta jornalista, que conduzia o debate sobre o rendimento de inserção social, foi confrontada com o seguinte comentário, do primeiro participante: «Era para dizer que a senhora é boa como o milho e se eu posso bater uma p...... enquanto a senhora fala ao telefone».
Imprevistos acontecem e os fóruns decorrem sem rede. Neste caso, parece-me inaceitável que um participante viole as regras do bom-senso e da boa-educação para fazer descambar um programa sério em ordinarice baixa. O senhor que teve a infeliz ideia de intervir publicamente para dizer tamanho disparate, provavelmente, não saberá o que é o rendimento de inserção social, nem tão pouco está interessado em saber. Há muita gente que pensa da mesma maneira mas ocupa as ideias com coisas mais interessantes do que apenas em “bater uma p…”. É a cabeça, cá em cima, que serve para pensar. A profissional que ele via pela televisão, deixou de ser jornalista ou mulher para ser reduzida a algo bom “como o milho”, no qual ele se quer concentrar para fazer... aquilo que disse. Há gostos e gostos. Mas há gostos que deviam ficar guardados (não recalcados), ou pelo menos, não serem partilhados de forma tão… inqualificável.
Obviamente que, neste, como noutros casos, não se pode generalizar. Mas, tenho de concluir, que, das duas uma, ou ainda há quem não saiba até onde pode ir quando tem liberdade de participar, ou há mesmo quem não saiba o que significa participar em liberdade sem colidir com a liberdade dos outros. De qualquer forma, no triste caso do 'Opinião Pública', o que se passou não foi uma participação, mas antes uma não-participação.

11 de mai. de 2006

Uma terra sem saída

Há dias em que resolvemos fazer coisas sem sentido, apenas porque nos apetece. Só mais tarde nos aperceberemos da embrulhada em que nos metemos. Mas isso só acontece depois de estarmos lá dentro, ou seja, tarde demais...

Existe uma localidade, que pertence à freguesia do Castelo, chamada Alto das Vinhas. Muitos saberão do que falo, pois é impossível subir a Maçã em direcção a Azeitão, sem reparar nas urbanizações que nascem, no Alto das Vinhas, como cogumelos. Pois, num destes dias em que decidi fazer coisas sem sentido apenas porque apetece, e ao passar de carro naquela estrada, acabei por visitar a zona. Lá no centro, ainda não há casas, mas os acessos estão construídos, os lotes devidamente marcados e os postes da luz estão pontuados por anúncios de empreiteiros que prometem “orçamentos gratuitos”. Não se vê vivalma.
Depois de ali dar uma volta, duas voltas, três voltas, percebi que, de facto, no Alto das Vinhas não há nada que se veja e, satisfeita a curiosidade, decidi tomar o rumo da estrada principal.
Quatro voltas, cinco voltas, seis voltas. Comecei a preocupar-me pois parecia que todos os caminhos iam dar ao mesmo sítio: o Alto das Vinhas.
Sete voltas, oito voltas, nove voltas. Muitas mais voltas foram precisas para perceber que me tinha perdido ali dentro.
Parece mentira, mas é verdade.
Dez voltas, onze voltas, doze voltas. O calor apertava.
Treze voltas, catorze voltas, quinze voltas.
Nisto, lá me cruzei com o único condutor que por ali passou no espaço de meia hora de desorientação e de voltas e mais voltas, que me pareceu bem menos perdido que eu, e que, quando foi interpelado devolveu um subtil ar de troça.
«- Olhe, desde que começaram a urbanizar que isto ficou assim. Se respeitar os sinais de trânsito, fique cert@ que daqui já não consegue sair. Está a ver aquele sentido proibido ali em baixo? Não veja. Siga por lá que vai dar à estrada principal. Os sinais chegaram a estar tapados com plásticos mas quando, há uns tempos, fez uma tempestade grande, o vento arrancou-os.»
Esclarecid@, fecho os olhos à infracção que ninguém viu, mas que nem por isso deixou de o ser, e segui caminho, respirando de alívio e tentando recordar-me da última tempestade de vento forte para aferir o desleixo.
De qualquer forma, aqui fica uma sugestão para promover a venda das casas que aqui vão nascer: “Quem entra no Alto das Vinhas, nunca mais de lá sai.” Nunca os poderão acusar de publicidade enganosa.

10 de mai. de 2006

Um futebol sem bola

Este início de semana foi marcado por subidas e descidas de divisão, entrada e saída de treinadores e declarações ou balanços de época mais ou menos (in)felizes. Estou a falar de futebol, claro está. Afinal, depois de feitas e desfeitas todas as contas de matemáticas complicadas, o campeonato 'betadine' fechou no domingo. Mas o desporto-rei continua pingar nas conversas de café, nas páginas de jornal, nos telejornais, nos noticários radiofónicos. É o futebol espremido que tem de alimentar três jornais diários e matar a sede dos adeptos, simpatizantes e afins. Ultrapassada esta fase, anuncia-se um mundial, com início marcado para daqui a um mês. Até lá, os portugueses, de todos os quadrantes políticos, voltam a ultrapassar preconceitos para estender à janela a bandeira nacional. Milhares de mulheres unir-se-ão, no sábado, para dar vida à "mais bela bandeira do mundo". No site do evento, os visitantes são desafiados a deixar uma promessa. Com o 13 de Maio à porta, tudo isto faz lembrar um país de três "f"'s, de má memória. Mas adiante! Já ficou provado, em Portugal, que não há nada como uma vitória da selecção para fazer esquecer os números do desemprego, a crise económica, o nuclear. Neste sentido, este mundial vem mesmo a calhar. Triste fado...
A propósito de tudo isto, não posso deixar de partilhar uma citação que encontrei aqui.
«Certo e brilhante confrade dizia-me ontem que "futebol é bola". Não há juízo mais inexato, mais utópico, mais irrealístico. O colega esvazia o futebol como um pneu, e repito: - retira do futebol tudo o que ele tem de misterioso e de patético. A mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespeariana. Às vezes, num córner mal ou bem batido, há um toque evidente do sobrenatural. Eu diria ainda ao ilustre confrade o seguinte: - em futebol, o pior cego é o que só vê a bola.(...) A bola é um reles, um ínfimo, um rídiculo detalhe. O que procuramos no futebol é o drama, é a tragédia, é o horror, é a compaixão.»
[Nelson Rodrigues, À Sombra das Chuteiras Imortais, São Paulo: Companhia das Letras, p.104. Crónica publicada originariamente no Globo de 18/11/1963].

5 de mai. de 2006

Fortaleza (ainda mais) adiada

Os mais recentes cartazes afixados pela Câmara Municipal de Sesimbra anunciavam: “Disponibilização Oficial do Espaço Público da Fortaleza de Santiago à População de Sesimbra”. A elaboração da frase deixava, por si só, prever que algo não estava totalmente resolvido. Se assim fosse, teriam anunciado apenas: “A fortaleza será de todos, a partir de 4 de Maio”. Ora, de facto, não foi isso que aconteceu.
A fortaleza de Sesimbra, onde está instalada a brigada fiscal, reabriu ontem ao público no âmbito de um acordo estabelecido, no final do mês de Março, entre a GNR, a Câmara Municipal de Sesimbra e o Ministério da Administração Interna. Ora, segundo noticiou a agência Lusa, «a autarquia reclamava a saída das forças de segurança daquele monumento nacional na marginal de Sesimbra, para ali instalar o futuro Museu do Mar, mas acabou por chegar a um acordo que garante apenas o usufruto daquele espaço, que estava fechado ao público há cerca de 40 anos».
O Secretário de Estado da Administração Interna, José Magalhães, defendeu, na cerimónia que ontem teve lugar, a manutenção das forças de segurança naquele local, assegurando que o acordo assinado permite «compatibilizar os objectivos de garantia da segurança no centro de Sesimbra a partir do forte e da utilização para outras finalidades relevantes, designadamente para a instalação do Museu do Mar».
Esta medida, vem apenas mascarar algo que continua a ser uma realidade. A fortaleza continuará a não ser de todos. A defesa, feita por José Magalhães, da manutenção das forças de segurança naquele local, leva-me a questionar o futuro do monumento. Não teria sido mais correcto a autarquia adoptar uma postura de intransigência? Desta forma, ao procurar compatibilizar vontades, abriu-se um precedente que pode atrasar, por mais umas dezenas de anos, o livre usufruto da fortaleza por parte da população. Além disso, afinal para que servem as instalações construídas em Palames, se agora o secretário de Estado defende a manutenção da Brigada Fiscal na Fortaleza, e o presidente da Câmara de Sesimbra até aceita isso para, como contrapartida, “disponibilizar oficialmente aquele espaço público” a 4 de Maio, feriado municipal, como fica tão bem para a fotografia?

4 de mai. de 2006

Afinal em que é que ficamos?!

Segundo já foi, publicamente, anunciado e sobejamente veiculado pela comunicação social, a discussão pública sobre o Plano de Pormenor da Zona Sul da Mata de Sesimbra vai ter continuação, com prazos ainda não definidos. De qualquer forma, o site da autarquia podia ter já actualizado essa informação, ao invés de manter as datas anteriores. Qualquer munícipe mais desatento ainda vai achar que as datas lá anunciadas se referem ao ano de 2007, até porque a notícia surge num link intitulado de "actualidade".
Já agora, também poderia ser importante dar um jeito no "site oficial" do projecto. Até porque, este site pretende ser tão informativo, tão informativo, tão informativo... que se esqueceu de informar sobre esse pormenor.

2 de mai. de 2006

Apocalipse nau

Recomeçou o drama, o suplício, a tortura. Não, este não é o mote de um novo programa do Albarran. É apenas a continuação de uma novela da vida real, a ter lugar em Sesimbra, cujo elenco sempre integrámos, desempenhando parcos papéis secundários. Neste fim-de-semana prolongado, com temperatura a convidar a uma ida à praia, Sesimbra encheu e encheu e encheu. É incrível como uns raios de sol conseguem diminuir, significativamente, a qualidade de vida dos que cá moram. Tive a clara sensação que muita gente decidiu trocar o fato-de-treino e a ida ao centro comercial por um programa bem mais agradável: vir para Sesimbra e participar na gincana habitual da procura por um lugar para estacionar o carro.
Na marginal, no Sábado à noite, uma fila enorme de carros estacionados, no sentido poente nascente, desde o restaurante ‘Peralta’ até ao café ‘Astro Rei’, permitia apenas a circulação num sentido. Isso causou, como seria de esperar, um caos tão grande, que até incomodava quem andava a pé.
Num outro ponto da vila, junto à entrada superior para o empreendimento ‘Mar da Califórnia’, a pequena rotunda que lá existe, esteve sempre enfeitada com carros estacionados em cima. Obviamente, que quem ali não passa todos os dias não sabe que sob aqueles 4 veículos existe uma rotunda para ser contornada. E, talvez nunca venham a saber. Além disso, a pequena estrada empedrada de acesso ao estacionamento do empreendimento, continua a gerar muitas dúvidas e, como consequência, as irregularidades repetem-se. Convém que, quem desce do tribunal esteja atento, para não chocar de frente com quem quer ir para o estacionamento.

No meio desta confusão, nada melhor do que descontrair lendo o jornal ‘Nova Morada’. Foi lá, numa publireportagem sobre o ‘Super Sol’ que encontrei esta pérola: «O negócio processa-se dentro das normas internacionais do franshising e o contrato entre as partes define a concessão de instalações, infraestruturas e “now hau” do negócio (…)».

Da guerra da mata, para a batalha entre ambientalistas

Os dirigentes da WWF vêm a público defender o projecto da Mata de Sesimbra, criticando as posições assumidas pelas associações ambientalistas com quem, alegadamente, reuniram diversas vezes, e cujas apreciações sobre o projecto sempre foram positivas. Há dias, no entanto, as ONGA's portuguesas, numa acção ímpar, afinaram pelo mesmo diapasão para dizer "não" ao projecto da cidade da Mata.
De facto, um dos dirigentes da Quercus, Francisco Ferreira, esteve presente na primeira reunião de apresentação do projecto da Mata, que teve lugar há alguns anos, no Centro Cultural de Belém. Hoje, este ambientalista, está liminarmente contra.
As vozes que contestam o projecto aumentam a cada dia, à mesma medida que os promotores dão a conhecer o empreendimento.
Não existem coincidências.
«O director europeu do Fundo de Conservação da Vida Selvagem (WWF), Magnus Sylven, divulgou hoje uma carta aberta a criticar o parecer negativo de três organizações ambientalistas portuguesas sobre o projecto da Mata de Sesimbra.
A carta de Magnus Sylven, número dois mundial da WWF, é a resposta ao parecer negativo conjunto da Quercus, Geota e Liga Protecção da Natureza (LPN) sobre o projecto da Mata de Sesimbra. (…)
Na missiva a que a Agência Lusa teve acesso, Sylven dá conta do seu "desapontamento ao tomar conhecimento da posição das ONG's portuguesas" e surpresa "pelo facto de o WWF ter reunido diversas vezes com aquelas organizações, cujos comentários sobre o projecto foram sempre positivos".
Para o director do WWF, o projecto responde às exigências e especificações pedidas por estas Organizações Não Governamentais (ONG), considerando que "existem erros de omissão no comunicado" em que divulgaram a sua posição.
O WWF afirma que o projecto de empreendimento turístico foi aprovado pelas autoridades locais e que é muito mais do que "acessos às praias e à cidade", incluindo um sistema sustentável de transportes públicos, uma rede de parqueamento e transporte público exclusivo para as praias.
Magnus Sylven afirma também que as ONG's nacionais prendem-se em pormenores para emitir o seu parecer negativo quando o que está em causa são questões globais, reconhecendo contudo que se o projecto pode conter algumas imprecisões.»

In Lusa, 30 de Abril

Revés I

«A Câmara de Sesimbra aprovou sexta-feira por unanimidade, a prorrogação da discussão pública do Plano de Pormenor da Mata de Sesimbra (Zona Sul) por mais 22 dias, devido à inexistência de pareceres de diversas entidades nos locais de consulta.
A deliberação camarária foi aprovada com votos favoráveis dos vereadores das três forças políticas representadas no executivo municipal (…) em reunião pública extraordinária que tinha como ponto único da ordem de trabalhos a prorrogação do prazo de consulta pública do Plano de Pormenor da Zona sul da Mata de Sesimbra.
(…) Tudo indica, no entanto, que o prolongamento do prazo de consulta do Plano de Pormenor poderá estar relacionado com a providência cautelar que um grupo de sesimbrenses pretende interpor por alegada falta de informação durante o processo de discussão pública do empreendimento turístico da mata de Sesimbra.
A entrega da providência cautelar para suspender o Plano de Pormenor, que estava anunciada para a última sexta-feira, foi adiada por mais alguns dias, mas os proponentes garantem que não desistem de a apresentar, apesar da prorrogação do prazo de discussão pública.
Segundo Adelino Fortunato, um dos subscritores da providência cautelar, a decisão do executivo camarário de reabrir o processo de discussão pública reflecte o reconhecimento de que havia erros processuais". (…)
"A Câmara de Sesimbra quer prorrogar o prazo por 22 dias, mas não se pode prorrogar uma discussão pública que já foi encerrada dia 24 de Abril", disse, defendendo que o procedimento mais correcto seria a "abertura de um novo processo de consulta pública, por um período de 45 dias". (…)
A agência Lusa tentou, sem êxito, contactar o presidente da Câmara de Sesimbra, mas não foi possível em tempo oportuno.»

In Lusa, 29 de Abril