Este início de semana foi marcado por subidas e descidas de divisão, entrada e saída de treinadores e declarações ou balanços de época mais ou menos (in)felizes. Estou a falar de futebol, claro está. Afinal, depois de feitas e desfeitas todas as contas de matemáticas complicadas, o campeonato 'betadine' fechou no domingo. Mas o desporto-rei continua pingar nas conversas de café, nas páginas de jornal, nos telejornais, nos noticários radiofónicos. É o futebol espremido que tem de alimentar três jornais diários e matar a sede dos adeptos, simpatizantes e afins. Ultrapassada esta fase, anuncia-se um mundial, com início marcado para daqui a um mês. Até lá, os portugueses, de todos os quadrantes políticos, voltam a ultrapassar preconceitos para estender à janela a bandeira nacional. Milhares de mulheres unir-se-ão, no sábado, para dar vida à "mais bela bandeira do mundo". No site do evento, os visitantes são desafiados a deixar uma promessa. Com o 13 de Maio à porta, tudo isto faz lembrar um país de três "f"'s, de má memória. Mas adiante! Já ficou provado, em Portugal, que não há nada como uma vitória da selecção para fazer esquecer os números do desemprego, a crise económica, o nuclear. Neste sentido, este mundial vem mesmo a calhar. Triste fado...
A propósito de tudo isto, não posso deixar de partilhar uma citação que encontrei aqui.
«Certo e brilhante confrade dizia-me ontem que "futebol é bola". Não há juízo mais inexato, mais utópico, mais irrealístico. O colega esvazia o futebol como um pneu, e repito: - retira do futebol tudo o que ele tem de misterioso e de patético. A mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespeariana. Às vezes, num córner mal ou bem batido, há um toque evidente do sobrenatural. Eu diria ainda ao ilustre confrade o seguinte: - em futebol, o pior cego é o que só vê a bola.(...) A bola é um reles, um ínfimo, um rídiculo detalhe. O que procuramos no futebol é o drama, é a tragédia, é o horror, é a compaixão.»
[Nelson Rodrigues, À Sombra das Chuteiras Imortais, São Paulo: Companhia das Letras, p.104. Crónica publicada originariamente no Globo de 18/11/1963].
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