12 de nov. de 2009

Lindo...

No editorial do mais recente 'Sesimbra Municipío', o presidente da Câmara Municipal de Sesimbra, Augusto Pólvora, mostra-se satisfeito e confortável perante os resultados eleitorais que obteve. Nem outra coisa seria de esperar. Se há 4 anos, com uma "maioria eleitoral frágil", como diz, se propôs a ser "presidente de todos os sesimbrenses", agora, perante a maioria absoluta alcançada nas últimas eleições, Pólvora anuncia: "aquilo que podem esperar de nós é governar para todos os sesimbrenses e tratar todos por igual".
Estas afirmações confundem-me... Será que Augusto Pólvora acha que poderia ser de outra forma?! É que isto é tão óbvio que afirmá-lo como se fosse um compromisso é absolutamente inócuo e até constrangedor. Estas são afirmações completamente vazias de sentido e de conteúdo, que só podem incomodar quem as lê. A Augusto Pólvora, talvez lhe tenha parecido uma coisa bonita de dizer.
Da mesma forma que é... bonito... afirmar que aquilo que espera das diversas forças políticas é "cooperação, sentido de responsabilidade e uma postura construtiva em caso de oposição". "Em caso de oposição"?! Pois é, a democracia tem destas coisas. Apenas se não fosse uma democracia, se colocaria o "caso" de haver um "caso" em que uma força política não adoptasse a referida postura determinada por Pólvora "em caso" de oposição.
E será que uma força política que não se assuma como oposição não precisará de adoptar uma posição de "cooperação, sentido de responsabilidade e uma postura construtiva"? Hmmm...
Resumindo, atrevo-me a dizer que este será o editorial menos inspirado de sempre de Augusto Pólvora. A última frase é, sem dúvida, a chave de ouro, que tem a graça e o encanto duma casa de emigrantes na Guarda: "Aquilo que sabemos é que Sesimbra vai continuar a mexer, connosco, convosco, com todos!". Bonito...

Nas páginas 8 e 9 desta publicação é apresentada a constituição dos novos órgãos autárquicos. E aqui já é visível como Augusto Pólvora sabe ser "presidente de todos" por igual. Assim, no que diz respeito ao executivo da Câmara, da mesma forma que enumeram os pelouros atribuídos aos vereadores, poderiam e deveriam afirmar apenas que Américo Gegaloto (PS) não tem pelouros. Mas não. Sobre este vereador é dito: "Não aceitou os pelouros propostos pelo presidente da Câmara". Quase soa a queixinhas que é uma coisa tão feia... Ora, na mesma ordem de ideia deveria ter sido dito, relativamente ao vereador do PSD: "aceitou os seguintes pelouros propostos pelo presidente da Câmara". Certo?

Provavelmente, o que Augusto Pólvora se esqueceu de referir no seu inspirado editorial é que, "em caso de oposição" é uma coisa, e em caso de cooperação é outra.

Em ambos os casos, diria eu, é mesmo determinante "o sentido de responsabilidade". Veremos quem aguenta o barco até ao fim.

3 de nov. de 2009

Portão de escola sem crianças

Há dias, a notícia da queda de um portão que provocou ferimentos ligeiros numa criança de sete anos, na recém-inaugurada escola do Pinhal do General (Quinta do Conde) surgiu em diversos meios de comunicação social. À TSF, a vereadora da Educação, certamente desprevenida, prestou declarações desastrosas. Segundo Felícia Costa, "eventualmente, qualquer equipamento, não pode estar preparado para uma má utilização, nomeadamente, crianças a brincar e a oscilar em cima do portão. (...)". Para a vereadora, "se não tivéssemos crianças penduradas no portão, ele não teria caído".
É claro que, se não andarmos de carro, e não tivermos de fazer uso desse equipamento para acelerar, por exemplo, não sofremos acidentes.
É claro que, só se não passearmos na rua, nunca correremos o risco de levar com um vaso na cabeça, caído duma varanda.
É claro que se não andarmos de bicicleta, nunca cairemos, nem sequer seremos capazes de partir uma perna.
É claro que se não houvesse pedras na rua, nunca nos partiriam a cabeça com um arremesso.
É claro que, só quem não fala, ou seja, quem não faz uma má utilização do aparelho vocal, não corre o risco de dizer asneiras ou de desafinar.
E é claro, que seria muito mais fácil fazer uma escola sem crianças, já que elas são especialmente propensas a fazer uma má utilização dos equipamentos.

2 de nov. de 2009

Nem mais

"(...) Chega a ser confrangedor assistir ao polígono de vícios que condenam a vida autárquica a negar-se a si mesma e a reproduzir indefinidamente os erros que era suposto ter corrigido há muito tempo.
Dois aspectos são particularmente graves. Um, pelas consequências desastrosas que tem no já muito escangalhado ordenamento do território. Outro, pela corrosão que traz aos valores da democracia.
O primeiro decorre da já insuportável perpetuação do financiamento das autarquias a reboque dos negócios do imobiliário, um vício que por toda a Europa já foi praticamente resolvido. Que eficácia pode ter uma política de ordenamento do território quando, ao nível autárquico, a principal fonte de receitas é a compra e venda de casas? E quando as mais-valias geradas por decisão administrativa revertem na sua totalidade para o mediador que conseguiu 'convencer' uma autarquia a tornar urbano um terreno que ele comprou barato - porque era rural - a quem, por vezes, nem a sua própria casa lá conseguia construir? O que vale o ordenamento quando todos os espacinhos livres de uma cidade, incluindo logradouros, são cobiçados para empilhar andares? O que vale o ordenamento do território sem uma lei de solos e sem um cadastro? (...)

Artigo de Luísa Schmidt publicado no Expresso de 31 de Outubro