11 de nov. de 2008

Periferias

O presidente da Câmara Municipal de Sesimbra, Augusto Pólvora, está apostado em colocar o concelho na rota dos turistas e, em declarações ao ‘Setúbal na Rede’, defende que os projectos estruturantes para a região, podem, de facto, “impulsionar o desenvolvimento do concelho e a melhoria das condições de vida da população”. Claro que desse lote de projectos estruturantes, Augusto Pólvora sublinha um único: a Mata de Sesimbra. O edil assume que o turismo é a “grande aposta da autarquia”, e, acrescenta: “sem desprezar as actividades tradicionais e a pesca”.

Esta última consideração revela, entre outras coisas, que:

1. Augusto Pólvora considera apostar no turismo não assumindo como fundamental nessa estratégia a promoção das actividades tradicionais e na pesca, o que me parece ser um erro crasso. Ou seja, para o arquitecto uma coisa (turismo) pode existir sem a outra (a pesca e as actividades tradicionais), quando uma e outra coisas deveriam surgir sempre associadas, alavancando-se.

2. O presidente da Câmara Municipal de Sesimbra continua, de forma imperturbável, a assumir o projecto da Mata de Sesimbra como estruturante para o futuro do concelho. É estranho que este tipo e conclusões cheguem numa altura em que a autarquia tem em vista a elaboração de um Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo no concelho de Sesimbra. Para quê?!


O jornal revela ainda que Augusto Pólvora considera “fundamental” para o concelho o prolongamento do IC21 até Sesimbra, um “itinerário complementar à ponte e que é fundamental para captar mais utentes”. Diz ainda o edil que os “sucessivos governos têm deixado Sesimbra na periferia, sem acesso à auto-estrada”.

Ora bem, o velho sonho do arquitecto de abrir uma auto-estrada que desemboca em Sesimbra está em vias de se tornar numa realidade. Quem viria a ocupar os milhares de casas que a câmara tem deixado que se multipliquem como cogumelos, sem qualquer orientação?

Já agora, alguém consegue explicar-me qual o conceito de periferia do senhor presidente? Segundo a wikipédia, “periferia” quer dizer, num sentido genérico, “tudo o que está em redor”. Afinal estamos em redor do quê? E queremos ser o centro do quê, afinal?

10 de nov. de 2008

Ideias objectivamente desordenadas

O pároco Sílvio Couto dedicou a crónica que mantém no jornal ‘O Sesimbrense’ ao casamento entre homossexuais, sob o sugestivo título “gayatices de certos meninos ricos”. Com o devido respeito que o senhor me merece, julgo que a designação do texto resulta num triste e ofensivo trocadilho, que conhece uma, ainda mais, deplorável explanação ao longo do artigo, onde a homossexualidade é retratada como uma travessura arranjada por gente abastada. Pasmem-se: a homossexualidade é um luxo.


O padre critica, antes de mais, o facto de “uns tantos meninos ricos” discutirem “a questão do casamento de pessoas do mesmo sexo”, como se a resolução deste problema “relativizasse” outros como os das contas públicas e privadas. Escreve o padre que “quem quer viver ‘homem com homem’ e ‘mulher com mulher’ nem precisa de trazer isso para a vi(d)a pública, pois privadamente pode vivê-lo sem esse folclore que tem estado apenso a certas questões do foro privado”. Ora, vamos lá ver; o ser ou não ser, não é a questão. Até se pode ser. Vá lá. Pasmem-se: com jeitinho até se toleram as travessuras, mas tem de ser tudo bem fechado entre 4 paredes. Pior do que ser, é mesmo parecer...


Segundo Sílvio Couto, a defesa do casamento entre pessoas do mesmo sexo tem como intuito “ofender ou trazer à liça do descrédito quem pensar diferentemente das modas mais ou menos aberrantes”. Tenho, sinceramente, sérias dúvidas que os homossexuais, seres suspeitosamente “aberrantes” (valha-nos… alguém ou alguma coisa), estejam realmente interessados em descredibilizar quem nem sequer lhes merece crédito que careça de ser descredibilizado. 


Apesar destas considerações, a igreja católica, defende o padre, assumiu posições “claras”, “na linha da compreensão para com as pessoas que vivem o drama da homossexualidade”. É realmente, para mim, dramático, ser confrontad@ com este tipo de considerações. Citando o catecismo da igreja católica n.º 2358, Sílvio Couto refere-se ainda à homossexualidade como uma “propensão objectivamente desordenada” que deve ser vivida como uma “provação”.

A todo o recente regabofe em torno da homossexualidade, o padre associa ao processo de “neo-paganização do mundo ocidental” e avisa: “o combate é duro”.


Os “objectivamente desordenados” que se cuidem… com esta afirmação de ideias e considerações tão objectivamente desordenadas (para não dizer pior).


5 de nov. de 2008

A realidade supera a ficção

“Normally when you see a black man or a woman president, an asteroid is about to hit the Statue of Liberty.”

Jon Stewart na apresentação dos Óscares 2008.