9 de dez. de 2007

A educação da nossa vergonha

A Câmara Municipal de Sesimbra promoveu, na sexta-feira à noite, um debate sobre o Projecto Educativo Local. Sobre este assunto, a vereadora da Educação da Câmara Municipal de Sesimbra, Felícia Costa, disse, em declarações ao jornal “SemMais” que uma das ferramentas muito importantes para a elaboração deste Projecto são os resultados dos inquérito aplicado no ano passado que revelam que «a maioria dos alunos, professores e encarregados de educação de Sesimbra está satisfeita com as escolhas do concelho, embora muitos reclamem a falta de escolas do concelho». A partir daqui, «a autarquia definirá linhas de acção para minimizar os principais problemas», disse a vereadora ao jornal. Quem ler isto há-de achar que a situação da educação em Sesimbra está bem e que apenas faltam equipamentos. Não se percebe porque se fecham os olhos às estatísticas preocupantes publicadas nos últimos dias na imprensa nacional e que nos deviam encher de vergonha. Os resultados dos exames nacionais realizados no ensino básico e secundário revelam uma situação preocupante. Sesimbra é o ÚNICO concelho do litoral que apresenta uma média negativa no exame de português do 12.º ano. A matemática a média é igualmente negativa embora esse resultado se dilua um pouco mais no grave panorama nacional. Em 1292 escolas, a Navegador Rodrigues Soromenho ocupa a 1113.ª posição, e cem lugares acima (1013) aparece a Michel Giacometti.
Enquanto que por um lado a autarquia diz que faz, faz, faz, por outro, os resultados são desastrosos. Alguma conclusão deveria ser retirada desta evidência. Claro que num problema de âmbito nacional, é muito mais fácil sacudir a água do capote para as opções do Governo. Muitas delas, obviamente, altamente criticáveis e criticadas. Mas pensar a educação num âmbito local não pode ser indiferente a esta realidade e uma autarquia não pode, nem está isenta de culpas.
Mais grave a coisa se afigura quando durante a sessão de sexta-feira, a assessora da autarquia para elaboração da Carta Educativa tenha defendido que (numa intervenção em que se apresentou, curiosamente, apenas como “professora aposentada”) o Projecto Local é «uma utopia».
Por seu lado, e uma vez mais, a vereadora da Educação, Felícia Costa, queixou-se da falta de participação por parte dos docentes e restante comunidade educativa nestes eventos promovidos pela autarquia. É estranho que a vereadora consiga reunir tanta gente no tradicional banquete de recepção à comunidade educativa, mas que poucos se sintam mobilizados para discutir os problemas.
Provavelmente não se sentiram envolvidos. Provavelmente já não acreditam. Provavelmente acharam que não se discutiria o que realmente interessa. Provavelmente pensaram que ao seu contributo não seria dada qualquer relevância ou valor.
Já agora, e aqueles que fizeram o esforço para participar no debate que impressão trouxeram?
Num quadro assim também eu acabo por partilhar da opinião da assessora, desculpem, engenheira, desculpem… como é mesmo?... ah, professora aposentada: o futuro da educação em Sesimbra, só pode mesmo ser uma utopia.