30 de jan. de 2008

Mais uma...

O último 'Sesimbra Município' revela que o mega-projecto imobiliário previsto para a 'Mata de Sesimbra' foi declarado "Projecto de Interesse Nacional" (PIN), ao qual foi atribuído o n.º 41.
Mas afinal, o que é um PIN e o que conseguem autarquia e promotores imobiliários com esta classificação?

«E o que é um ‘Projecto PIN’, em matéria imobiliária? É aquele através do qual alguém que pretende construir em zona vedada à construção apresenta um projecto megalómano, invariavelmente definido como ‘amigo do ambiente’ e cheio de ‘zonas verdes’ que são campos de golfe, prometendo ainda criar uns milhares de postos de trabalho (...)».
Miguel Sousa Tavares, Expresso, 03-03-2007

«Recentemente elevado ao estatuto de PIN (Projecto de Interesse Nacional), regime expedito especial concedido a projectos endinheirados, que sucedeu aos Projectos Estruturantes, o projecto Verdelago (Altura - Castro Marim) prepara-se para dar a "machadada" final num dos últimos troços livres do litoral sotaventino.»
www.algarvepress.net - 04.01.07

«No essencial, os PIN têm servido para facultar à especulação imobiliária a possibilidade de ocupação de solos protegidos, adquiridos a custos baixíssimos, porque se encontram muitas vezes incluídos em áreas protegidas.
São estes procedimentos que agora se pretendem mais céleres e dignificantes dos instrumentos de excelência para intervir no território, subvertendo atribuições e competências dos órgãos das autarquias locais em desrespeito pelos planos municipais e mesmo por planos especiais e sectoriais de âmbito regional ou nacional.»

www.pcp.pt - Intervenção de Miguel Tiago na AR em Sexta, 21 Dezembro 2007

«A Quercus denunciou, junto do procurador-geral da República, acordos público-privados de “legalidade duvidosa” ao abrigo do conceito de Projecto de Interesse Nacional, solicitando a intervenção do Ministério Público. “Apresentámos vários casos concretos e, inclusive, chamámos a atenção para alguns acordos público-privados na definição do próprio ordenamento do território que são, no mínimo, de legalidade duvidosa”, disse o presidente da associação ambientalista, Hélder Spínola, no final de uma audiência com o PGR, Pinto Monteiro.»
O Primeiro de Janeiro

«Pese embora o (louvável) empenho na construção eficiente, na poupança de recursos e na circulação sustentável, é o projecto em si próprio que parece um absurdo: por mais voltas que se dêem, 8 mil novos fogos para 30 mil pessoas, duplicando a população de Sesimbra, é um excesso insustentável numa região já sobrecarregada. Espera-se que o Governo, à semelhança do que fez no PROT Algarve, acautele estas e outras situações - como o Litoral Alentejano, o Alqueva, o Litoral Oeste. Tanto mais que estão a ser feitos novos planos regionais para estas zonas e o imobiliário, que não olha a meios, já começou a arrombar as decisões pela «via rápida PIN» (projecto de interesse nacional)...»
Luísa Schmidt (Referindo-se à «eco-cidade» Mata de Sesimbra), Expresso

«No mesmo dia, José Sócrates declarou publicamente o seu apoio a um conjunto de 10 novos projectos turísticos, aprovados ao abrigo do expediente burocrático intitulado Projecto de Interesse Nacional (PIN), defendendo que os mesmos se destinam à reconversão da oferta turística para uma qualidade superior. A LPN considera escandaloso apresentar a construção de empreendimentos de mais de 400 camas como se se tratasse de uma estratégia de reconversão para um turismo de qualidade, quando os mesmos são construídos e adicionados aos já existentes, à custa da destruição de mais áreas naturais, e não pela remoção das construções de má qualidade que enxameiam o Algarve e que, essas sim, deveriam ser efectivamente reconvertidas.
Será que esta massificação encapotada da oferta turística, com aumento da carga urbana e dos campos de golfe, aliada à intensificação agrícola, bem acima da capacidade biofísica do território, é compatível com um turismo de qualidade e que se afirma como sustentável, isto para não referir as questões relativas aos ganhos imorais e insuficientemente esclarecidos decorrentes das mais-valias urbanísticas?»
Liga para a Protecção da Natureza, Comunicado de Imprensa de 1 de Agosto de 2007

29 de jan. de 2008

Pérolas no ‘Raio de Luz’

Que o Raio de Luz está a construir um Centro Cultural e Assistencial não é novidade para ninguém. Que há muito surgem expressos nas páginas do jornal diversos pedidos de “apoio financeiro” para a obra também não. Da mesma forma que não é novidade a forma quase agressiva com que o fazem. O último número não é excepção. Vejamos:

«Oxalá, a consciência dos que nos lêem, sejam “mãos abertas” para que não caiam no desânimo de tudo virem a perder.
Poderia contar exemplos vivos. Não o faço para não criar constrangimentos.
Que cada um se interrogue e tome a decisão acertada.»
In Editorial

Na última página, sob um quadro onde surge uma listagem dos donativos, contribuições e afins para esta obra questinam, de forma dramática, o leitor:
Será a solidariedade, palavra vã?!
Num contexto menos economico-financeiro, o editorial do jornal alerta ainda para os perigos que ameaçam a imprensa regional:
«Um povo que não está com os seus jornais, será a médio prazo, um povo amordaçado. A história já nos demonstrou esse facto. Será que estamos a chegar ao fim? Quem nos quer liquidar?»
«Um povo que não está com os seus jornais»?! Valha-nos... alguém.

24 de jan. de 2008

E esta hein?!

“Vamos lá cambada, todos à molhada!”. Foi desta forma, dando expressão à cantiga que Herman José popularizou durante a sua faceta de artista da rádio, TV, disco e da cassete pirata, que o presidente da Câmara Municipal de Sesimbra, Augusto Pólvora, compareceu na terça-feira, numa reunião das comissões da Assembleia Municipal de Sesimbra que pretendiam conhecer e discutir a última versão do Plano de Pormenor da Zona Sul da Mata de Sesimbra, sobre o qual este órgão autárquico terá de se pronunciar em sessão que deverá ocorrer em meados de Fevereiro.
O caso “Mata de Sesimbra” tem sido um festim de imbróglios e para não destoar deste tom Augusto Pólvora decidiu “convocar” para uma reunião - para a qual ele próprio tinha sido convidado -, um vasto leque de representantes do promotor imobiliário, desde arquitectos a técnicos e, claro, juristas. Perdendo toda e qualquer compostura que ainda lhe pudesse restar neste caso, Augusto Pólvora pegou na “cambada” e “todos à molhada” lá foram juntinhos tentar vender, impor e dispôr aquilo que bem lhes apetecia aos deputados municipais.
A Assembleia é, por excelência, um órgão fiscalizador da acção da Câmara e será a última instância municipal a deliberar sobre um mega-projecto imobiliário que tem suscitado muitas e fundamentadas dúvidas e críticas. Que cabecinha iluminada poderá ter imaginado semelhante festival de se apresentar na reunião com funcionários do promotor imobiliário? Do ponto de vista político este tipo de atitudes são inaceitáveis e, do ponto de vista ético é inconcebível.
Mas afinal onde é que acaba a Câmara e começa o promotor, e vice-versa? Como é que conseguimos separar esta "molhada"?
Como se pode ler aqui e aqui, os deputados do Bloco de Esquerda (BE) e do Partido Socialista (PS) na Assembleia Municipal desafinaram do tom dominante, fizeram questão de se descolarem deste tipo de atitudes e abandonaram a sala alegando que a reunião se destinava a ouvir a Câmara e não o promotor imobiliário. CDU e PSD ficaram.