11 de mai. de 2006

Uma terra sem saída

Há dias em que resolvemos fazer coisas sem sentido, apenas porque nos apetece. Só mais tarde nos aperceberemos da embrulhada em que nos metemos. Mas isso só acontece depois de estarmos lá dentro, ou seja, tarde demais...

Existe uma localidade, que pertence à freguesia do Castelo, chamada Alto das Vinhas. Muitos saberão do que falo, pois é impossível subir a Maçã em direcção a Azeitão, sem reparar nas urbanizações que nascem, no Alto das Vinhas, como cogumelos. Pois, num destes dias em que decidi fazer coisas sem sentido apenas porque apetece, e ao passar de carro naquela estrada, acabei por visitar a zona. Lá no centro, ainda não há casas, mas os acessos estão construídos, os lotes devidamente marcados e os postes da luz estão pontuados por anúncios de empreiteiros que prometem “orçamentos gratuitos”. Não se vê vivalma.
Depois de ali dar uma volta, duas voltas, três voltas, percebi que, de facto, no Alto das Vinhas não há nada que se veja e, satisfeita a curiosidade, decidi tomar o rumo da estrada principal.
Quatro voltas, cinco voltas, seis voltas. Comecei a preocupar-me pois parecia que todos os caminhos iam dar ao mesmo sítio: o Alto das Vinhas.
Sete voltas, oito voltas, nove voltas. Muitas mais voltas foram precisas para perceber que me tinha perdido ali dentro.
Parece mentira, mas é verdade.
Dez voltas, onze voltas, doze voltas. O calor apertava.
Treze voltas, catorze voltas, quinze voltas.
Nisto, lá me cruzei com o único condutor que por ali passou no espaço de meia hora de desorientação e de voltas e mais voltas, que me pareceu bem menos perdido que eu, e que, quando foi interpelado devolveu um subtil ar de troça.
«- Olhe, desde que começaram a urbanizar que isto ficou assim. Se respeitar os sinais de trânsito, fique cert@ que daqui já não consegue sair. Está a ver aquele sentido proibido ali em baixo? Não veja. Siga por lá que vai dar à estrada principal. Os sinais chegaram a estar tapados com plásticos mas quando, há uns tempos, fez uma tempestade grande, o vento arrancou-os.»
Esclarecid@, fecho os olhos à infracção que ninguém viu, mas que nem por isso deixou de o ser, e segui caminho, respirando de alívio e tentando recordar-me da última tempestade de vento forte para aferir o desleixo.
De qualquer forma, aqui fica uma sugestão para promover a venda das casas que aqui vão nascer: “Quem entra no Alto das Vinhas, nunca mais de lá sai.” Nunca os poderão acusar de publicidade enganosa.

3 comentários:

Anônimo disse...

É como o Pólvora, que passa todos os sinais de sentido proibido colocados pelo bom-senso a bem de posibilitar a geração de rikeza a todos os patos bravos que sobrevoem o concelho.
Pólvora ou dinamo gerador de riqueza, o mais neo-liberal dos comunistas.

Anônimo disse...

São bem conhecidas as praticas de ordenamento do território implementadas PCP.
Barreiro, Almada, Sesimbra, Seixal e Setubal são localidades onde nos ultimos 30 anos a "obra" aparece imponente à vista de todos.
Em mais nenhuma parte do territorio português o betão e os especuladores imobiliarios têm a vida tão facilitada.
À quem insista em afirmar que o PCP não muda nada. Falso, na minha opinião o PCP já mudou muito, e vai continuar a mudar. O neo-liberalismo comunista vai crescer. Falta saber até onde...

Anônimo disse...

Como é que os velhos comunistas, os da luta contra o fascismo, aqueles que preferiam morrer a falar na pide, se setem agora com este fartar vilanagem da banca e do grande capital, tudo com a preciosa ajuda, e os salamaleques, dos novos "comunistas"? Haja memória!