4 de mai. de 2007

Eu ainda sou do tempo...

Eu ainda sou do tempo em que pexito e camponês que se prezasse se engalava no dia de hoje.

Eu ainda sou do tempo em que uma ida ao arraial não terminava sem levar no bolso uma bola de serradura.

Eu ainda sou do tempo em as melhores farturas do arraial eram as redondas, «americanas».

Eu ainda sou do tempo em que o arraial enchia uma avenida de cima a baixo.

Eu ainda sou do tempo em que o arraial cortava o trânsito.

Eu ainda sou do tempo em que visitar o arraial era brincar com as malas e bolas penduradas à altura da cabeça nas diversas barraquinhas.

Eu ainda sou do tempo em que no arraial conseguia encontrar artigos que iam desde o boião para fazer bolas de sabão, às pilhas, ao cinto, passando pelo corta-unhas.

Eu ainda sou do tempo em que a procissão era uma sentida homenagem aos pescadores porque Sesimbra era e tinha orgulho em ser terra de pescadores.

Eu ainda sou do tempo em que, desde cedo, várias pessoas se acomodavam ao longo do trajecto da procissão para a ver passar.

Eu ainda sou do tempo em que no mar de gente que seguia atrás da procissão, os calçados não se misturavam com os descalços, no cumprimento de promessas.

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