24 de jan. de 2006

Espezinhamentos

O novo boletim municipal da era Pólvora é... no mínimo, curioso.
Não tive vontade de passar da 3.ª página. Fala a notícia que ocupa este espaço, da presença de Sesimbra no Congresso da Associação Nacional de Municípios (ANMP). Posso adiantar-vos que o concelho esteve representado “ao mais alto nível”, como diz o texto. Ora, os nossos digníssimos representantes foram, nada mais, nada menos, do que o presidente da Câmara, Augusto Pólvora; a presidente da Assembleia Municipal, Odete Graça; e, o presidente da Junta de Santiago, Félix Rapaz.
Quanto aos representantes, estamos conversados. São os que temos, contra isso batatas. No que diz respeito a uma representação de “alto nível”, há que admitir que já é mais discutível. Mas adiante!
A letras tantas, diz a bela prosa: “O município de Sesimbra marcou de forma relevante a sua presença no Congresso, sendo o único com duas intervenções”. Podemos daqui concluir que, para esta gente, importa bastante a quantidade. Fazer qualquer coisa a mais do que os outros é valorizado, independentemente da sua relevância ou qualidade. Não houve uma, mas sim DUAS intervenções por parte dos “altos” representantes sesimbrenses, o que, inexplicavelmente, é sublinhado na notícia do boletim municipal. E se eles ressalvam, eu acredito que este seja um facto determinante na vida de todo e qualquer sesimbrense. Hoje brindo às DUAS intervenções neste congresso!
Mas, não se pense que a representação de “alto nível” se ficou por aqui. Diz o texto: “Importa salientar que esta, é a primeira vez que um presidente da Câmara Municipal de Sesimbra fez uma intervenção no Congresso da ANMP”. Ora aqui está outro facto de elevada importância. Sesimbra falou, não apenas, por duas vezes, mas, mais importante; abriu a boca pela PRIMEIRA VEZ.
Saudo daqui, a ousadia do presidente Pólvora.
Mas, atentemos, não à quantidade, mas à qualidade do conteúdo do que foi dito (numa das DUAS intervenções e pela PRIMEIRA VEZ) pelo edil. Augusto Pólvora, criticou a “forma descarada como os governos passam por cima de planos directores municipais, que foram objecto de deliberação do Conselho de Ministros num passado recente, e que agora são espezinhados sem conhecimento dos municípios, contrariando-se de forma evidente, uma das propostas das linhas gerais deste congresso, no que diz respeito à prevalência dos PDM sobre os outros instrumentos de gestão do território”.
O presidente sesimbrense referiu-se, esclareça-se, ao Plano de Ordenamento do Parque Natural da Arrábida (POPNA). Mas, não resisto a esboçar um sorriso de tristeza perante a cretinice destas declarações.
Resumindo: Sesimbra falou, não apenas, por DUAS VEZES, mas, mais importante; um presidente da Câmara sesimbrense abriu a boca pela PRIMEIRA VEZ em semelhante ocasião e perdeu uma boa oportunidade de ficar calado. Aquilo que ganhou em elogiada quantidade, perdeu em qualidade de discurso.
O POPNA é, concordamos, um documento incompreensível que pode ferir de morte a tradição e a actividade piscatória em Sesimbra. Nisso, o presidente da autarquia sesimbrense, tem razão.
Mas, os Planos Directores Municipais (PDM’s) são instrumentos fundamentais de gestão do território. E, ainda bem, que sobre eles prevalecem outros, caso contrário, a gestão do território municipal desenvolver-se-ia ao sabor da vontade quadrienal dos governantes, sem visão de longo prazo, sem possibilidade de emenda. O que pode ser especialmente perigoso quando na cadeira do poder municipal se sentar um defensor do betão, do cimento, das estradas, dos empreendimentos turísticos, e afins.
Até porque, não são apenas os governantes nacionais que passam por cima dos PDM’s de forma descarada. Os governos municipais também o fazem.
O edifício ‘Mar da Califórnia’ é um deslize do PDM.
As pedreiras são deslizes do PDM.
O anunciado projecto-bandeira da ‘Mata de Sesimbra’, que Augusto Pólvora agita como solução para os males turísticos do concelho, é mais um deslize do PDM.
Nunca ouvi o presidente da Câmara a pronunciar-se sobre estes “espezinhamentos”. Porque será?

5 comentários:

Anônimo disse...

Aiol@acertas-te na mouche!! E disseste-o de forma clara, concreta e certeira. E Já agora, devias-te perguntar quem escreve os textos do boletim??? Chegou a andar na escola?? As frases são escritas ao sabor do que vem à cabeça, sem qualquer tipo de orientação e realmente..."Nós somos bons, somos muito bons...!!!"
Adorei o lema!!
Levem-no à prática!

Urbana

Joao Augusto Aldeia disse...

No post original está escrito: "Mas, os Planos Directores Municipais (PDM’s) são instrumentos fundamentais de gestão do território. E, ainda bem, que sobre eles prevalecem outros, caso contrário, a gestão do território municipal desenvolver-se-ia ao sabor da vontade quadrienal dos governantes, sem visão de longo prazo, sem possibilidade de emenda."

Que contradição!- então os PDMs são fundamentais e depois "ainda bem que são desrespeitados por outros planos" ? (Foi o que aconteceu com o POPNA, o famigerado Plano da Arrábida).

Que falta de jeito, caro Pelim...

Anônimo disse...

Expliquem-me o seguinte: O tal POPNA foi criado antes ou depois da implantação da democracia?
Custa assim tanto apelidar de fascistas alguns ditos democratas que renegaram os seus princípios ideológicos e andam a gozar com o povo? Não vivi o tempo da outra senhora mas penso que se chamava fascismo a situações similares.

Anônimo disse...

Já viram que depois das AUtárquicas deixou-se de falar no POPNA? Já viram que "O destino da nossa terra" deixou de estar irremediavelmente comprometido? Já viram que deixaram de haver manifestações de protesto...Deixem-me ver a desculpa...AH já sei, entregaram o pedido de impugnação em tribunal! Deve ser por isso. PLEEEEEASE!!

Urban@

Anônimo disse...

Muito boa noite, estou em vias de realizar um trabalho sobre património cultural, no qual quero salientar o parque natural da Serra da Arrábida, e todos os problemas que dele derivam. No entanto, confesso que não me sinto suficientemente esclarecida acerca do POPNA, e acho relevante explicá-lo neste trabalho.Visto ter passado pelo seu site, e ter igualmente constatado que está à vontade com o assunto, venho pedir-lhe um enorme favor. Se não se importava de me esclarecer apenas os pontos mais importantes que o deliniam e os objectivos que têm em conta e enviar para o meu mail: lauragaspar@gmail.com. Ficar-lhe-ía muito grata. Cumprimentos, Laura