O novo executivo da Câmara Municipal de Sesimbra tomou ontem posse, numa cerimónia com toda a pompa e circunstância, a lembrar a entrega dos óscares, ou melhor, os lusos globos de ouro. Houve de tudo; desfile de gravatas e modelitos, atrapalhações, gaffes, voz off, apresentações, agradecimentos, cumprimentos, cobertura jornalística, fotografias e tudo aquilo a que os eleitos, novos e menos novos, tinham direito. Para já, a vitória da CDU em toda a linha nas últimas autárquicas, reforçou a ideia de que as festas e festarolas vão manter-se ou até mesmo ganhar um outro glamour. Não importa o quê, importa que brilhe. Até a recém-empossada presidente da Assembleia Municipal de Sesimbra, Odete Graça, assumiu irrepreensível e com algum charme, o papel de Catarina Furtado ou Bárbara Guimarães e, garanto, não lhes ficou nada atrás.
No meio do brilho, das luzes, e do arranjo floral que se estendia a todo o palco, ficaram também clarificadas algumas posições políticas. Para começar, Augusto Pólvora, o grande vencedor do Globo, depois de agradecer votos, felicitar derrotados e afirmar humildade, enumerou a distribuição dos pelouros pela vereação.
Ninguém se surpreende que o novo vereador do PSD, Francisco Luís, assuma agora os pelouros da Segurança, Protecção Civil e Ambiente. Não obstante, o programa com que o PSD se apresentou a eleições tinha 5 pontos que cabiam num
outdoor, sendo que apenas um deles - a criação de polícia municipal - está relacionado com um dos seus pelouros, e nada mais se sabe das suas posições sobre um tema tão relevante como o
"ambiente". Até porque, em declarações ao
'Setúbal na Rede', Francisco Luís, refere algo tão relevante como a
"Agenda XXI Local". Sobre o assunto, o jornal escreve o seguinte:
"Ao nível do ambiente, o social-democrata promete preparar o concelho 'para ter a sua Agenda XXI Local'". Ora, entre preparar o concelho para ter uma Agenda XXI, e comprometer-se com a execução desse documento, que é urgente, vai um grande passo. Portanto, das duas uma, ou Francisco Luís não faz a mínima ideia do que está a falar, ou não faz a mínima ideia do que está a falar. Era aconselhável alguém articular-lhe umas coisas sobre o assunto.
Entretanto, o
site criado pelos sociais-democratas no âmbito das eleições autárquicas continua a anunciar
"brevemente on-line"... mas aguardemos. Natal é sempre que o homem quiser, e
"brevemente" é sempre que o PSD o entender. Aqui ninguém tem pressa e temos todo o tempo do mundo para perceber o que pensa este PSD. Entretanto, eles até podem ir fazendo umas coisitas, precisamente, para matar tempo. Senão vejamos, o Francisco Luís admite ao
'Setúbal na Rede', que ao assumir pelouros a tempo inteiro, estará em condições de efectuar
"uma oposição com responsabilidade e onde se poderia colocar em prática algumas das promessas feitas à população". Ora, a parte importante era conseguir perceber que promessas. Portanto, falando numa língua que apenas o PSD percebe, arriscaria a dizer que "brevemente saberemos quais as promessas eleitorais que agora querem pôr em prática, que constam do programa que apresentarão à população brevemente, relativas a umas eleições que já foram". Confuso?
Bom, convirá ainda esclarecer que a tal "promessa feita à população" relativa à polícia municipal expressa no referido outdoor, não é, afinal, segundo Francisco Luís, uma "promessa", mas sim uma mera possibilidade que carece ainda de confirmação. Isto porque, segundo este vereador o próximo passo é "avançar com estudos para saber se existe possibilidade de se criar uma polícia municipal". Ainda mais confuso? Ah pois é!
O vereador do PS, Américo Gegaloto, por seu lado, decidiu não assumir qualquer pasta. Ainda segundo o 'Setúbal na Rede', Augusto Pólvora propôs-lhe os pelouros da Saúde Pública, Trânsito e Toponímia, mas o socialista apresentou uma contra-proposta, que foi, claro, recusada, e que incluía as pastas da Acção Social, Juventude ou Bibliotecas Municipais. Ora, a biblioteca municipal já foi um pequeno poder duma anterior vereadora do PS, esvaziado sistematicamente nos últimos 4 anos por Felícia Costa que agora o soma ao seu rol de pastas. Acção Social também lhe pertence, enquanto que a Juventude está sob a alçada do vereador José Polido.
Resumindo, assim à partida, até parece que o PS saiu da letargia a que se tinha resignado, e concedeu-se carta de alforria para assumir o papel de oposição. Dê-mos-lhe o benefício da dúvida. Tirando isso, assim à partida, a única coisa que me causa uma ligeira urticária, que se mantém desde o último mandato autárquico, é este arranjinho entre CDU e PSD. (E agora, leia o título.)