23 de jun. de 2008

Se sabem, porque é que não fazem?

«As zonas que normalmente designamos por espaços públicos – jardins, parques, campos de jogos, miradouros, monumentos ou percursos pedonais, por exemplo – são peças fundamentais na organização do território de um município. Caracterizam-se por serem acessíveis a todos, por terem enquadramentos históricos, arquitectónicos e paisagísticos propícios à prática de actividades de lazer, e pela capacidade de fixar população e atrair visitantes. Por tudo isto, a criação de novos espaços públicos e a requalificação dos existentes deve ser vista como prioridade pelas autarquias.»

Editorial da agenda ‘Sesimbr’Acontece’

O corta-fitas

Há uns tempos, passava eu pela rotunda do ‘Pingo Doce’ (o original e não o reconvertido “Plus”), quando fui surpreendid@ por um enorme aparato de gente engravatada e fardada que testemunhava a inauguração duma estátua no centro da rotunda, com um enfadado ar solene, nada indiferente aos olhares curiosos dos condutores desprevenidos que davam de caras com aquela curiosa cena.
Percebi, entretanto, que cenas parecidas se repetiram um pouco por todo o concelho. No dia 25 de Abril foram inauguradas, com pompa e circunstância, duas outras peças; uma na Avenida João Paulo II, na Cotovia, e outra na Avenida 1.º de Maio, na Quinta do Conde. Em 22 de Maio foi a tal cena junto ao ‘Pingo Doce’ com que me cruzei. E, três dias depois, segundo vim a constatar mais tarde no site da autarquia, houve mais uma festinha de inauguração duma estátua na Avenida 25 de Abril. Por fim, a 1 de Junho, mais uma peça inaugurada no Parque da Vila da Quinta do Conde, também ele inaugurado nesse mesmo dia. Uma estafa. Tudo numa assentada!
Mas não fizeram a coisa por menos. A juntar a este rol de corta-fitas, em 31 de Maio, Dia do Pescador, houve ainda tempo para encaixar mais uma inauguração, desta feita, do monumento do pescador. Sim, sim, esse já existia, mas como foi “relocalizado”, teve também direito a inauguração. Ora pois! Quando não há, inventa-se.

Susto urbanístico

Cada vez que a Câmara Municipal de Sesimbra apresenta um projecto de ordenamento é sinal de que vem aí asneira da grossa. E, a comprovar a regra e toda e qualquer excepção, o projecto de “reconversão” da Avenida da Liberdade é um susto.
No vocabulário comum, a “reconversão” é uma “transformação que visa a adaptação a novas situações decorrentes do progresso”. Mas no dicionário urbanístico da autarquia, “reconverter” é “betonizar”. E “ordenar” é fechar espaços em branco, construindo, ocupando tudo o que ainda resta.
Aquilo que agora pretendem construir numa das principais artérias de entrada na vila de Sesimbra é uma aberração que promete pôr debaixo do chinelo aquilo a que nos habituámos a reconhecer como “o arranha-céus”.

A culpa é dos CTT

Um atraso na distribuição por correio da agenda ‘Sesimbra Acontece’ resulta numa chamada de atenção na página 3 do último boletim municipal. Apesar de sublinharem, e reafirmarem, que a Câmara é completamente alheia ao sucedido, em momento algum pedem desculpa aos leitores e munícipes pelo sucedido. Certamente consideram que não há desculpas a apresentar por um erro que afirmam não ser da sua responsabilidade. Daí não vem grande mal ao mundo, é certo.
Eu, no entanto, considero que seria, certamente, de bom tom, ouvir “apresentamos as nossas desculpas, mas fomos completamente alheios à situação”.
Nesse texto dirigido aos munícipes, a Câmara afirma ainda que não houve “por parte dos CTT qualquer explicação para o sucedido”, concluindo que serão tomadas “as medidas necessárias para que a situação não se repita”.
Como em qualquer serviço aberto ao público, os CTT devem ter livro de reclamações, e a autarquia deverá ter os seus meios próprios de fazer chegar, pela via que entender, a reclamação a quem de direito.
Era escusado apresentar queixinhas em praça pública. Não fica bem e é de mau tom. Mas também daí não vem ao mundo. Afinal quem erra até são só os outros.